Uma das características do esporte mais popular do Brasil, o futebol, é a forma apaixonada que os torcedores dos clubes demonstram seu apoio durante os jogos. Torcem, nos dois sentidos, de apoiar o seu time e de torcer os fatos em favor dele, sem qualquer pudor. Há até quem comemore quando seu time ganha um jogo com arbitragens duvidosas.
No tênis, esporte individual por excelência, mesmo havendo jogos de duplas, sempre menos valorizados, o torcedor se identifica com determinados tenistas em detrimento dos demais. Isso fica ainda mais evidente quando se pensa no tênis dos últimos vinte anos, com o surgimento de figuras lendárias como Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray, o famoso “big four”, que dominou completamente o circuito.
Os estilos desses jogadores são bastante diversos, mesmo com a aposentadoria há pouco tempo de Federer e de Murray, que se aposentou após participar dos Jogos Olímpicos de Paris. Federer, o mais velho do quarteto, tinha um estilo clássico, com um tênis vistoso e de jogadas de grande habilidade. Qualquer amante do tênis é capaz de perceber a excelência e a plástica de seu estilo de jogo. Nadal, com sua persistência e força mental, se dedicou e ainda se dedica intensamente em cada ponto, fazendo uso de sua potência física e resiliência impressionante. Djokovic, em um estilo que mais se assemelha a um tenista de videogame, com precisão e flexibilidade incríveis, é capaz de se manter motivado em todo jogo, mesmo com todos os recordes que tem acumulado. Murray, recém aposentado, se manteve no nível dos outros três, vencendo Grand Slams improváveis e saindo vitorioso em Wimbledon, feito que um britânico não conseguia há décadas. Quatro grandes tenistas, vitoriosos e ídolos em todo mundo.
A realidade não é exatamente a mesma entre os torcedores desses quatro. Cada torcedor, sobretudo dos três primeiros, costuma considerar o seu preferido como o G.O.A.T. (great of all time), como o melhor. Torcedores de Federer apontam a sua elegância, a sua técnica e seu carisma como motivos para ser escolhido como o melhor de todos; torcedores de Nadal apontam para sua superação e carreira vitoriosa, mesmo não tendo a mesma técnica de Federer, o que seria fruto de seu esforço extra, além de sua liderança no confronto com o suíço; torcedores de Djokovic apontam os números do sérvio como motivação para ser o melhor, além da prevalência mais recente no circuito, após a aposentadoria de Federer e das recentes lesões de Nadal e Murray.
Pessoalmente, penso que essa forma de avaliar o tênis e o melhor tenista de todos os tempos está mais próxima daquele sentido básico de torcer, aquele que torce os fatos para que sejam destacados os pontos que se tem interesse. Explico. O tênis é muito mais do que números e estatística. A forma de vencer também tem peso. O exemplo que o tenista dá fora de quadra também tem peso. A maneira de tratar os adversários, árbitros e os torcedores também tem peso. A maneira que os outros tenistas vêm o atleta também tem peso.
Dito isso, imagino que os torcedores do Nadal destacarão as muitas vitórias do espanhol em Roland Garros, os torcedores do Djokovic dirão que números não mentem, e os torcedores do Federer dirão que o carisma do suíço é insuperável. Todos estão corretos. Mas todos estão incorretos e incompletos. O tênis é mais do que seus torcedores. Ainda bem.