A aceitação do próprio corpo se mostra um desafio significativo para muitas pessoas, especialmente em um mundo repleto de padrões corporais e pressões estéticas. Esses fenômenos culturais, amplamente discutidos, afetam a forma como nos vemos e, frequentemente, como queremos que os outros nos vejam.
Uma recente participação da cantora Sandy em um programa de TV trouxe à tona essas questões com uma sinceridade que ressoou em muitas pessoas. Em sua entrevista, Sandy compartilhou a dificuldade de se apresentar sem maquiagem e sua insegurança em relação à sua aparência sem esses artifícios. Essa reflexão destaca uma realidade comum: a pressão estética parece afetar especialmente as mulheres, levando a uma busca incessante por padrões muitas vezes inatingíveis.
As estatísticas corroboram essa pressão, já que entre 2014 e 2019, houve um crescimento significativo no número de procedimentos estéticos no Brasil. A vontade de atender a esses padrões impulsiona muitas pessoas a recorrer a dietas rigorosas, cirurgias plásticas e diversas soluções rápidas para a perda de peso. Essa vivência é mais intensa para grupos específicos, como pessoas negras, LGBTQIAPN+ e pessoas com deficiência (PCDs), que frequentemente enfrentam desafios adicionais em sua jornada de aceitação.
A luta pela aceitação do corpo não é apenas sobre aparência; envolve um profundo processo de autoconhecimento e amor próprio. Especialistas sugerem que, para cultivar essa aceitação, é necessário reconhecer e valorizar tanto as qualidades quanto as imperfeições do corpo. A sexóloga Bárbara Bastos enfatiza que a autoconfiança é essencial para se sentir confortável em qualquer circunstância, promovendo a ideia de que a verdadeira beleza reside na autenticidade.
No entanto, a busca por cuidados pessoais não deve ser confundida com a imposição de padrões irreais. O autocuidado é válido e importante, desde que não se torne obsessão ou uma comparação constante com ideais inalcançáveis. Aceitar as marcas e características que compõem nosso corpo é um passo crucial nessa caminhada. Envelhecer ou possuir um corpo que não se encaixa nos moldes do que a sociedade considera belo pode ser desafiador, mas é fundamental entender que essas características são parte de nossa história e vivências.
O envelhecimento, embora mal visto por muitos, é um processo natural e inevitável. A psicóloga Monica Machado argumenta que, ao aceitar as mudanças físicas, podemos nos conectar com a história que cada marca e linha de expressão representa. Essa mudança de perspectiva permite um acolhimento e autocompaixão necessários para lidar com as inseguranças.
No que diz respeito aos procedimentos estéticos, a aceitação do próprio corpo não proíbe a busca por modificações. O importante é que essa decisão seja baseada em uma vontade genuína de melhorar a si mesmo, e não em uma pressão externa para se encaixar em padrões de beleza. Luís Maatz, cirurgião plástico, ressalta que a real busca deve ser pela melhor versão de si, e não pela perfeição inatingível.
Por fim, é crucial desconstruir a ideia de que a aceitação do próprio corpo é um pedido para desistir de cuidados. Ao contrário, o autocuidado deve ser visto como uma prática saudável que promove o bem-estar e a autoestima, sem abrir mão da autenticidade e do amor próprio. A jornada de aceitação é complexa, mas possível, e deve ser um caminho baseado em escolhas pessoais e no respeito à diversidade dos corpos e das experiências.