Um século atrás, a descoberta de um fóssil que havia estado enterrado por mais de 2 milhões de anos revolucionou a compreensão sobre a evolução humana, mudando a percepção de que o berço da humanidade estava na África.
A importante descoberta se deu nas mãos de Raymond Dart, durante um casamento, onde ele recebeu uma entrega de fósseis de uma pedreira na África do Sul. Os mineiros de cal haviam encontrado esses restos em Taung, que significa “Lugar do Leão”. Dart, recém-nomeado professor de anatomia na Universidade de Witwatersrand, estava ansioso para examinar o material.
Ao abrir uma das caixas, Dart encontrou o que descreveu como um crânio de bebês, que mais tarde identificou como pertencente a um macaco bípede. A descoberta foi incomum; seu tamanho cerebral e outras características físicas diferiam significativamente dos macacos conhecidos na época. Dart percebeu a importância do fóssil e enfatizou que suas semelhanças com os humanos eram surpreendentes.
A análise inicial do menino de Taung desencadeou debates acalorados na comunidade científica. Dart argumentou que essa criatura não era inteiramente humana, mas apresentava características que a diferenciavam dos macacos. Suas ideias foram inicialmente rejeitadas, enfrentando críticas severas e zombarias de colegas que viam suas teorias como não fundamentadas.
Apesar dos desafios enfrentados, Dart persistiu em sua pesquisa. Ele publicou seus achados na revista “Nature”, embora sua descoberta fosse recebida com ceticismo. A defesa de que a evolução dos pré-humanos ocorreu na região da savana sul-africana, em vez de áreas florestais mais ricas em alimentos, foi considerada controversa, mas ele sustentou que as habilidades cerebrais aprimoradas dessa espécie permitiram sobrevivência em um ambiente mais hostil.
A aceitação da teoria de que os humanos evoluíram na África não veio imediatamente. Foi necessário o surgimento de mais evidências fósseis, incluindo as descobertas de Lucy e outros hominídeos, para que a teoria da origem africana se tornasse amplamente aceita. Estudos adicionais validaram muitas das conclusões de Dart, embora alguns detalhes foram aprimorados com o tempo, como a idade do menino de Taung, que provavelmente morreu com cerca de 3 ou 4 anos.
A importância da descoberta de Dart foi reconhecida com o passar do tempo, consolidando sua posição na história da paleoantropologia. Em 1984, sua contribuição foi reconhecida como uma das 20 descobertas científicas que moldaram a vida no século 20. A área onde o crânio foi encontrado agora faz parte do Berço da Humanidade, um Patrimônio Mundial da Unesco.
Assim, o menino de Taung se tornou uma peça chave na compreensão de que os seres humanos têm suas raízes na África, desafiando a visão tradicional sobre a evolução humana a partir de outras regiões do mundo, como a Ásia ou a Europa.