O mestre–sala capixaba Marcos Vinicius da Silva Cordeiro, de 30 anos, que faz doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), teve uma pesquisa sobre a saúde nas escolas de samba aprovada no 17º Congresso Mundial de Saúde Pública, que vai acontecer no mês de maio deste ano em Roma, na Itália.
Além de ser segundo mestre–sala da MUG — e cria do Morro do Quadro —, Marcos é fonoaudiólogo, especialista em saúde, direitos humanos e racismo pela Fiocruz, além de mestre e doutorando em Saúde Coletiva pela Ufes.
A pesquisa, que o capixaba iniciou no mestrado e agora continua no doutorado, fala sobre a promoção dos cuidados com a saúde na vivência cotidiana dos sambistas.
O trabalho também aborda a importância das escolas de samba para a saúde coletiva da população, sobretudo durante a pandemia da Covid-19 e o período de isolamento social, imposto como forma de conter a doença.
“Temos muitos estudos epidemiológicos que focam no carnaval como momento de ‘curtição’, e grande parte dos estudos da área da saúde sobre carnaval trazem o recorte só de um dia do carnaval. A minha proposta é diferente: mostrar como o carnaval impacta na saúde das pessoas. Na perspectiva de se preparar, de se cuidar para o desfile. Vejo a saúde em um sentido mais amplo”, explicou.
Marcos Vinicius da Silva Cordeiro
Mestre-sala da MUG, mestre e doutorando em saúde coletiva pela Ufes
“Enxergo a saúde como vida. Quando a escola de samba te permite, depois de um dia de trabalho, ser rainha de bateria, ser reconhecido como sambista, ter irmandade e sociabilidade, podemos resgatar a escola de samba como uma instituição de promoção da vida, principalmente da vida negra.”
Pandemia
Marcos conta que, durante a pandemia, precisou mudar os rumos da pesquisa devido ao isolamento social. Foi nesse momento que ele descobriu a importância das escolas de samba como ambiente de compartilhamento de afetos e de vivências.
Na época, o capixaba dançava na Novo Império e escolheu ouvir os integrantes da escola de Caratoíra sobre a falta do samba durante o isolamento.
“Tivemos dificuldade de lidar com o isolamento e começamos a observar nas conversas, principalmente com as pessoas mais idosas — velha guarda, baianas —, que a escola de samba era tudo o que elas tinham. Quando você tira a escola de samba no período da pandemia, elas começam a falar sobre tristeza, sobre luto. Muitas não têm família, então a escola era a família delas”, relatou.
Marcos Vinicius da Silva Cordeiro
Mestre-sala da MUG, mestre e doutorando em saúde coletiva pela Ufes
“Além disso, as escolas tiveram participação ativa na campanha de vacinação. Vivemos um cenário de negacionismo muito grande, mas as escolas enquanto instituição tomaram a bandeira da imunização para si. Isso ajudou muito na cobertura vacinal. Na pandemia, a escola é promotora de saúde e da vida.”
Ministério da Saúde
Além de pesquisador e mestre-sala, o capixaba ainda ainda trabalha na assessoria de políticas públicas de saúde do Ministério da Saúde, na equipe da professora, e também capixaba, Ethel Maciel. E vai desfilar, viu?
Nesta sexta-feira (10), o mestre-sala capixaba chega a Vitória para ser mestre de cerimônias do terceiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Chega Mais, no Grupo A. Já no sábado (11), ele entra na avenida como segundo mestre-sala da MUG.
Depois que a maratona do samba acabar, Marcos volta a trabalhar em Brasília, afinal precisa juntar dinheiro, buscar bolsas de estudos e parcerias para que consiga viajar a Roma para apresentar a pesquisa.
Que os nossos sambistas possam, como fez Marcos, levar o samba cada vez mais para dentro da vida acadêmica. A coluna deseja muito sucesso ao sambista pesquisador!
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