Nesta terça-feira (12), as redes sociais chinesas, especialmente o Weibo, estão sendo fortemente censuradas em relação a um atropelamento que matou 35 pessoas em Zhuhai, no sul da China, em um centro esportivo. Buscas pelo local do incidente resultaram em poucas postagens, com menções superficiais ao acontecimento, mas sem fotos ou detalhes substanciais. Reportagens da mídia local também foram rapidamente removidas das plataformas.
O atropelamento, descrito como um ataque deliberado pela polícia chinesa, aconteceu enquanto várias pessoas se exercitavam no centro esportivo. O autor do crime, um homem de 62 anos, teria agido em um surto de raiva após discordar de um pedido de divórcio feito por sua ex-esposa. De acordo com a polícia, o atropelamento deixou ainda 43 pessoas feridas. O homem foi detido após tentar fugir do local.
Enquanto isso, uma equipe de repórteres da rede britânica BBC foi abordada em Zhuhai por um homem, identificado como um agente governamental, que tentou impedir a gravação de imagens no local. O agente afirmou que a equipe não poderia filmar no centro esportivo.
Na China, é comum que as autoridades intensifiquem a censura e o monitoramento das redes sociais em momentos de grande comoção ou durante eventos importantes, como reuniões políticas, ou em casos com um grande número de vítimas. O governo chinês tem mantido um controle rigoroso sobre a divulgação de informações relacionadas a incidentes violentos, especialmente quando esses envolvem vítimas aleatórias.
Apesar da censura dentro da China, imagens e vídeos sobre o incidente começaram a circular fora do país, principalmente nas redes sociais internacionais. O blogueiro dissidente Li Ying, conhecido como Professor Li no X (antigo Twitter), foi um dos responsáveis por compartilhar esses vídeos, que mostravam vítimas sendo socorridas enquanto estavam deitadas na pista de corrida do centro esportivo.
Nas primeiras horas após o ocorrido, as autoridades chinesas mantiveram em segredo o número exato de vítimas e feridos. Foi apenas no dia seguinte que a mídia estatal confirmou que mais de 20 pessoas estavam entre os feridos, com informações ainda escassas sobre o ocorrido. As ligações dos repórteres da agência de notícias Associated Press para hospitais em Zhuhai foram ignoradas ou redirecionadas para outras instituições, o que levantou mais suspeitas sobre o controle das informações no país.
Este não é um caso isolado de violência na China. Nos últimos meses, o país tem registrado uma série de ataques com motivações aparentemente aleatórias. Em outubro, um homem de 50 anos foi preso após atacar crianças em uma escola em Pequim, ferindo cinco pessoas. Em setembro, um ataque com faca em um supermercado de Xangai resultou na morte de três pessoas. Esses episódios refletem uma crescente preocupação com incidentes violentos envolvendo pessoas que parecem agir de forma impulsiva, sem vínculo claro com suas vítimas.
O governo local de Zhuhai, cidade vizinha a Macau, expressou pesar pelas mortes e anunciou que o motorista seria responsabilizado de acordo com a lei. O presidente Xi Jinping também se pronunciou sobre o caso, reforçando a necessidade de uma punição exemplar. Contudo, a forma como o incidente está sendo controlado nas redes sociais levanta questionamentos sobre a transparência das autoridades chinesas e a liberdade de expressão no país.
Com o incidente e a subsequente censura, a China volta a enfrentar críticas internacionais sobre sua abordagem à liberdade de imprensa e controle da informação.