Com a frase “Estou pronto para ser candidato a governador”, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) rompeu o silêncio oficial e trouxe à tona um tema já amplamente debatido nos bastidores da política capixaba: sua possível candidatura ao Governo do Espírito Santo nas eleições de 2026. A declaração, repetida a diferentes veículos de comunicação nos últimos dias, evidencia um movimento estratégico e planejado para posicioná-lo como principal nome na sucessão do governador Renato Casagrande (PSB).
A articulação política de Ferraço não se dá no vazio. Casagrande, em declarações recentes, já havia mencionado o vice-governador como um dos potenciais candidatos que poderão contar com seu apoio em 2026. Nessa lista incluem-se ainda figuras de projeção estadual, como o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), e o ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT). Todos foram beneficiados por consideráveis investimentos da gestão estadual, consolidando suas gestões e trajetórias políticas.
Entretanto, as movimentações iniciais do ano de 2025 já colocam Ferraço como um protagonista nas articulações. Além de fortalecer sua presença em eventos públicos e nas redes sociais, ele tem contado com sinais claros de apoio político. Euclério Sampaio, por exemplo, declarou recentemente considerar Ferraço o nome preferido de Casagrande e elogiou sua postura. A visita conjunta de ambos ao prefeito hospitalizado reforça os laços institucionais, em um gesto de solidariedade que também carrega peso político.
Ferraço também esteve presente em eventos-chave, como a assinatura para a ampliação do aeroporto municipal de Cachoeiro de Itapemirim, município em que seu pai, Theodorico Ferraço (PP), exerce atualmente o quinto mandato como prefeito. Esses movimentos reforçam não apenas sua base eleitoral sulina, mas também ressaltam a continuidade de um legado que une tradição política e investimento regional.
Panorama político e desafios eleitorais
Apesar da trajetória consolidada no cenário político capixaba – incluindo uma expressiva votação para o Senado em 2010, com 1,5 milhão de votos –, Ferraço enfrentará desafios consideráveis. Sua não reeleição ao Senado em 2018, com uma votação de 480,1 mil votos, será um ponto de atenção na disputa, especialmente frente a nomes com retrospectos vitoriosos nas urnas, como Euclério Sampaio e Arnaldinho Borgo, ambos reeleitos em 2024 com ampla margem no primeiro turno.
A conjuntura é ainda mais complexa na medida em que novos nomes começaram a ser especulados para a disputa. Entre eles, o deputado federal Da Vitória (PP) e o também deputado Gilson Daniel (Podemos), ambos influentes e com crescente projeção política. Lorenzo Pazolini (Republicanos), atual prefeito de Vitória e opositor declarado ao governo estadual, também deve figurar entre os candidatos, representando um contraponto político à base de Casagrande e Ferraço.
Outro ponto de debate reside na capacidade de Casagrande e Ferraço de manterem um leque amplo de alianças que abarque desde a esquerda até setores conservadores. Essa habilidade de articulação será crucial para sustentar uma candidatura competitiva e evitar divisões que possam enfraquecer o bloco da situação.
Estratégia e tempo político ao lado de Ferraço
Um fator decisivo para fortalecer Ferraço será a possível saída de Renato Casagrande do governo em 2026, caso o atual governador dispute uma vaga ao Senado. Nesse cenário, o vice-governador assumiria temporariamente o comando do Executivo estadual, uma oportunidade estratégica para liderar ações de governo e consolidar-se aos olhos do eleitorado como sucessor natural da gestão atual.
Além disso, Ferraço conta com atributos que ampliam sua viabilidade política, como experiência administrativa, trânsito em diferentes esferas do poder e respaldo de lideranças regionais. Embora as eleições ainda estejam distantes, o vice-governador entrou em campo com antecedência, iniciando um processo que busca construir alianças, fortalecer sua base e garantir sua presença no cenário eleitoral.
Seja como articulador político ou figura central da gestão estadual, Ferraço desempenha um papel destacado em um contexto de sucessão que promete ser altamente competitivo. De maneira cuidadosa, ele investe no fortalecimento de uma candidatura que, embora em fase inicial, já caminha com passos decisivos rumo à disputa pelo Palácio Anchieta.