A recente declaração do líder russo, Vladimir Putin, sobre um cessar-fogo de três dias na guerra na Ucrânia, coincidente com o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, não foi bem recebida pelas autoridades europeias. Anitta Hipper, porta-voz de relações exteriores da União Europeia, destacou que a Rússia pode interromper suas ações hostis a qualquer momento, indicando que não há necessidade de esperar pela data proposta por Moscou.
Críticos sugerem que o Kremlin, ao invocar razões humanitárias, busca apenas ganhar favores de Washington, especialmente após a mudança de tom do presidente americano, Donald Trump, a respeito dos ataques contínuos da Rússia à Ucrânia. Essa mudança de postura de Trump coincide com encontros estratégicos entre líderes europeus e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Planos de paz conflitantes
Enquanto a diplomacia se intensifica, dois planos de cessar-fogo emergiram: um proposto pelos EUA e o outro por autoridades europeias e ucranianas. As divergências são evidentes, com os EUA reconhecendo a Península da Crimeia como parte da Rússia, enquanto a proposta europeia ressalta que todas as questões territoriais devem ser resolvidas após um cessar-fogo total.
As condições do plano europeu incluem garantir que as forças armadas da Ucrânia não sejam limitadas e que haja garantias de segurança robustas, similares ao Artigo 5 da Otan. O plano americano, por outro lado, menciona que a Ucrânia não buscará adesão à Otan e sugere uma garantia de segurança menos abrangente.
Linhas vermelhas e garantias
Camille Grand, ex-funcionária da Otan, observa que a Europa começou a esclarecer suas expectativas em relação ao conflito. Nos últimos dias, diversas reuniões em cidades como Paris e Londres discutiram a possibilidade de uma “Força de garantia” europeia para supervisionar um eventual acordo de paz. No entanto, ainda há desacordos sobre como proteger essas forças de possíveis ataques russos.
Europa quer manter diálogo EUA-Ucrânia
A analista Almut Molle afirma que a determinação europeia em se envolver na segurança europeia é um sinal claro para os EUA. Porém, a prioridade da Europa pode se concentrar em manter Washington engajado nas negociações. A porta-voz da UE enfatizou que o apoio à Ucrânia é fundamental para enviar uma mensagem forte a possíveis agressores além da Rússia.
Plano B sem os EUA?
Se os EUA se retirarem das negociações, a Europa enfrenta o desafio de delinear um plano B. Apesar de seu compromisso em apoiar a Ucrânia “pelo tempo que for preciso”, a falta de clareza sobre como isso se concretizaria continua sendo uma preocupação. Em 2025, a UE destinou cerca de 23 bilhões de euros em ajuda à Ucrânia, mas a dependência de suporte logístico e de inteligência dos EUA complica a situação.
Embora a retirada dos EUA poderia ser menos prejudicial que uma postura hostil, especialistas sugerem que os europeus devem aproveitar essa oportunidade para buscar uma solução pacífica a partir da nova percepção de Trump sobre Putin.