A Agência da ONU para Refugiados abriu esta segunda-feira a 73ª sessão do Comitê Executivo alertando que “a demanda pela resposta nunca foi tão grande, enquanto o espaço para encontrar soluções nunca foi menor” para atender os que precisam.
O alto comissário para Refugiados, Filippo Grandi, lembrou que o mundo tem cerca de 100 milhões de refugiados e deslocados, num ano em que o conflito na Ucrânia está exigindo maior atenção.
Pobres
Ele destacou que o fluxo de deslocados acontece oito meses após o ataque da Rússia, com vidas e infraestruturas civis sendo destruídas. E citou relatos de funcionários do Acnur no terreno sobre “ataques horríveis” em centros urbanos em Kyiv, Dnipro, Lviv, Zaporizhzhia, Chernihiv, Odesa e outros.
Segundo agências de notícias, a escalada ocorreu após as explosões na única ponte sobre o Estreito de Kerch, ligando a península da Crimeia.
Grandi disse que a guerra na Ucrânia elevou em US$ 1 bilhão o orçamento previsto para este ano, para um total de US$ 10,7 bilhões. Pela primeira vez, depois de assumir o posto, em 2016, ele afirmou estar apreensivo com a situação financeira do Acnur, apesar de doações dos Estados Unidos e da Alemanha.
Grandi declarou que embora a resposta da Ucrânia tenha sido e deva continuar bem financiada, esse alvo deve ser o mesmo em todas as operações ao defender que fundos para novas emergências precisam ser complementares, não em substituição dos outros.
Mistura tóxica
Em relação a migrantes que tentam chegar à Europa, o Acnur estima que 1.630 pessoas morreram excluindo as vítimas fatais que atravessavam outras rotas. Ele apontou como causas principais o desespero comum em conflito, violência e discriminação formavam “uma mistura tóxica” deixando pessoas com pouca esperança.
O discurso alertou ainda sobre crises como a do Afeganistão, onde milhões de pessoas, incluindo mulheres, meninas e minorias, continuam precisando de ajuda urgente dentro do país e nos vizinhos Paquistão e Irã.
A resposta na Etiópia ainda precisa de quase metade de financiamento, após a retomada de confrontos em setembro que voltou a agravar as condições humanitárias.
Em Mianmar, os refugiados rohingyas tiveram apenas 30% dos fundos. Esperam-se cortes dramáticos na programação de todas as agências da ONU e ONGs que operam em Bangladesh, a menos que haja mais ajuda urgente dos doadores.
Esperança
Em Uganda, vivem mais de 1,5 milhão de refugiados. Este ano, aumentaram as dificuldades no país considerado um modelo global de acolhida. Cerca de 110 mil novos refugiados congoleses e sul-sudaneses chegaram ao território ugandês.
A violência extrema no Sahel e o déficit de financiamento de emergência climática estão impedindo a oferta de abrigo e comprometendo a proteção para combater a violência generalizada de gênero.
Grandi enfatizou ainda a falta de recursos enfrentada por milhões de refugiados sírios. A agravar essa realidade está a preocupante falta de financiamento para deslocados, quando a resposta nos países vizinhos está no seu nível mais baixo de sempre.
O apelo feito a doadores, agências internacionais, organizações de desenvolvimento, países anfitriões, de origem e cidadãos é que mantenham o foco em todas as crises e ofereçam recursos adequados para todas as respostas. A meta é evitar que refugiados e acolhedores passem mais dificuldades, percam a esperança e sofram com limitação de movimento.
O chefe do Acnur defende que tal esforço seja acompanhado pela busca de soluções, como o apoio ao retorno voluntario a ser feito somente para os casos em que os envolvidos escolham essa opção.