13 de junho de 2025
sexta-feira, 13 de junho de 2025

Nascimento: Uma travessia inesquecível em mil tons

Parte I

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Em 2022 se despediu dos palcos um dos maiores astros da MPB – e da música mundial – um cometa chamado Milton Nascimento. Nesse mesmo ano, também, uma de suas principais obras, o álbum dividido com seu célebre parceiro Lô Borges (e com as participações de vários músicos amigos) completou 50 anos do seu lançamento: o icônico disco “Clube da Esquina”.

Milton Nascimento – Clube da Esquina

Seguindo o rastro recente desses dois acontecimentos, me ocorreu que nada seria mais justo que inaugurar a coluna homenageando esse grande artista e enaltecer sua herança, de valor inestimável para o povo e a história desse país, assim como para a música mundial.

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E para tentar abarcar a grandiosidade e a riqueza, respectivamente, do artista e da obra citada, o artigo está dividido em duas partes, inicialmente falando sobre a figura de Milton Nascimento, e na continuação abordando o disco mais influente de sua carreira, que é considerado um grande marco para a MPB, e cujo título acabou batizando o “movimento” musical que ele catalisou. (#temsegundaparte).

“Quem Sabe Isso quer Dizer Amor”

Ao pensar em Milton Nascimento, nesse contexto, me lembrei de uma canção que fala sobre o ser do artista e sua relação com o tempo (e vice versa), a qual evoca belíssimas imagens e é repleta de profundo lirismo:

“No anfiteatro, sob o céu de estrelas
Um concerto eu imagino
Onde, num relance, o tempo alcance a glória
E o artista, o infinito”

(Chico Buarque, “Tempo e Artista”)

De fato, a arte do tempo, através de Milton Nascimento, alcançou máxima glória. E Milton, de sua parte, alcançou o Infinito. “Alcançar o infinito” pode ter várias conotações: imortalizar-se, eternizar-se, ou mesmo “tocar o inefável”. Enfim, a obra de Milton Nascimento, sem dúvida, alçou-se da esfera da temporalidade.

E a prova disso está no fato de que, ao escutá-lo, somos capazes de sentirmo-nos em contato com uma vibração que transcende a realidade imediata e nos transporta para outra dimensão – fora do tempo. Seus andamentos inusuais, as polirritmias, são característicos.

“Encontros e Despedidas”

Em sua trajetória fez várias parcerias, reuniu muita gente de diferentes escolas e regiões, alavancou a carreira de artistas novos e colocou em evidência novamente gente que veio antes e andava fora do meio. E além dos encontros com músicos e compositores brasileiros, Milton Nascimento também construiu pontes com artistas de outros países, principalmente os nossos vizinhos sul americanos. Mas essas conexões não se restringiram apenas ao nosso continente e
atravessaram o mundo.

Alguns desses companheiros e companheiras de jornada estiveram quase sempre presentes em seus trabalhos, outros periodicamente apareciam. Uns ainda vivem, outros já se foram. Mas a vida é mesmo sobre isso, chegar e partir…

“Coisas da Vida”

Milton Nascimento – mais conhecido pelo apelido familiar de “Bituca” – nasceu no Rio de Janeiro e, aos dois anos, apenas, órfão de sua mãe, passou a morar com a avó em Juiz de Fora, Minas Gerais, terra do coração. Com quatro anos ganhou seu primeiro instrumento, uma pequena sanfona de dois baixos.

A seguir ganharia uma gaita, a qual segurava entre os joelhos enquanto tocava simultaneamente com a sanfona alojada debaixo das pernas… Aos seis foi adotado por um casal e mudou-se para Três Pontas.

O seu pai era dono de uma rádio, e sua mãe era professora de música. Logo cedo ele estudou música e, já adolescente, trabalhou no rádio como DJ, locutor e diretor. Aos treze ganhou um
violão e, pouco tempo depois, começou a apender piano.

Desde sempre experimentou sua voz – que segundo umas das maiores de nossas cantoras seria “a voz de Deus cantando” – e com ela sempre impressionou quem ouvisse. Tinha gosto por vozes femininas, até que, ouvindo um certo cantor, passou a ver beleza em vozes masculinas também.

“Nos bailes da Vida”

Durante um período morou em Alfenas com a família de seu amigo, o pianista e maestro Wagner Tiso, com quem formou seus primeiros conjuntos, nos quais se apresentava à frente dos vocais. No fim dessa fase, recebeu de um empresário local o convite para gravar uma composição sua, “Barulho de Trem”, em Belo Horizonte.

Um ano após, o jovem mudou-se para a capital mineira a fim de cursar economia. Para lá também foi Wagner, e, novamente, formaram conjuntos musicais. Mas agora com Milton assumindo o contrabaixo e tocando música instrumental, brasileira e jazz.

No edifício onde morava, Bituca acabou conhecendo a família Borges: Marilton, um dos irmãos mais velhos com quem tocou na época, Márcio que viria a ser um dos seus valiosos parceiros letristas, e Lô, um dos irmãos mais novos, seu jovem parceiro musical, de apenas dezessete anos, com quem estabeleceu uma forte amizade. Um dia Milton o convidou, do completo anonimato para dividir um disco de vinil duplo em 1972.

“Saídas e Bandeiras”

Em 1966, de Belo Horizonte, Milton Nascimento zarpou para São Paulo, e no mesmo ano teve pela primeira vez uma composição sua gravada por ninguém mais, ninguém menos que Elis Regina. No ano seguinte classificou três composições no Festival Internacional da Canção (FIC).

Bituca venceu como melhor cantor e ainda classificou duas canções: “Travessia”, em terceiro lugar, letrada por seu grande amigo e poeta Fernando Brant e “Maria, minha fé” em sétimo. Ele só ficou sabendo que estava concorrendo, na véspera, quando seu amigo e ídolo, o cantor e compositor precursor da bossa nova, Agostinho dos Santos contou-lhe que inscreveu três canções suas em segredo.

Daí “pá frente” Bituca gravou seu primeiro álbum solo. Com o sucesso deste, já foi gravar o segundo nos Estados Unidos onde atraiu os músicos e admiradores de jazz com sua musicalidade visceral, afro, latina, brasileira, mineira, estadunidense e europeia.

Milton Nascimento lançou seu terceiro disco em 69, e em pouquíssimo tempo consolidou uma carreira internacional. O quarto disco, de 70, já conta com as primeiras participações do, então menino, Lô. Duas composições suas e uma em parceria com Bituca.

“Nada Será Como Antes”

1972 foi o ano da gravação de “Clube da esquina”. Esse acontecimento foi um marco para a sua carreira e para a MPB, pois fez com que muitas pessoas, de vários cantos do mundo, fossem parar numa esquina mineira “qualquer”, querendo compreender aquilo que ouviram e saber donde vinha.

O que será que constitui essa magnífica obra de arte? É o que veremos na Parte II, aguardem, eu volto! Abraços.

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Nina Almeida
Nina Almeida
Musicista autodidata, compositora, "guitarreira" e "escrevedeira". Atua como diretora na ALP.

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