O insulto em política é algo relativamente comum, usado muitas vezes por homens e mulheres públicos —e até com assinalável qualidade literária. Faz parte da arte política e, quando foi empregado com ironia e inteligência, chegou a produzir belas frases, que perduraram na história.
Uma vez, o escritor e diplomata português Eça de Queiroz, dirigindo-se ao presidente do governo luso, acusou deliciosamente: “O governo de vossa excelência não há de cair, porque não é um edifício. Tem de sair com benzina —porque é uma nódoa!”.
Em inglês, mais ao norte, outro político e também escritor —que até ganhou o Nobel de Literatura—, o então primeiro-ministro britânico Winston Churchill, certa vez respondeu certeiro no Parlamento a uma deputada que o acusava de estar embriagado na sessão: “É verdade, mas a senhora é feia, e amanhã eu estarei sóbrio”.
Pérolas de inteligência, capazes de simultaneamente permanecerem no tempo e atingirem com dor a integridade do adversário. São muito mais eficazes do que qualquer desses xingamentos básicos, a única coisa que os políticos de hoje parecem conseguir dizer.
O insulto se simplificou. Empobreceu, generalizou-se e está em toda parte —na internet, nas mídias sociais, nos aplicativos de conversa no celular—, mas é pouco mais que lixo avulso atirado por quem quer ter uma resposta e angariar visibilidade pública a qualquer custo.
Como a maioria dos políticos perdeu a elegância do passado, o pudor no presente e a vergonha no futuro, é apenas isso que são capazes de produzir. Desabituados a ler, agem como se uma ideia não fosse a semente de algo por começar, mas ela própria já seu defunto fruto.
Hoje, uma troca parlamentar de argumentos ocupa meia dúzia de palavras. Faz-se de pequenos títulos, menores que tuítes. Palavras imediatas e próximas, capazes de produzir efeito no momento seguinte. É uma dor na alma assistir a muitos deputados, senadores e outros tribunos se insultarem usando monossílabos infantilizados.
Na semana que passou, um político português da nova geração, por acaso de ultradireita —o oportunismo não escolhe lado, é a sorte que o determina—, desejou tornar-se internacionalmente famoso aproveitando a condenação que o Parlamento fazia aos ataques em Brasília: chamou “bandido” ao presidente do Brasil.
É verdade que, na democracia, o lugar que esse deputado ocupa no Legislativo luso, representando o povo português, lhe dá essa oportunidade. Mas, como se costuma dizer em terras portuguesas, também é a oportunidade que faz o vilão.
Como o significado do insulto não é o objeto deste texto, mas sim evidenciar a franciscana pobreza de quem o produz, condena-se o autor ao pior castigo que ele pode ter: deixá-lo no anonimato.