© Reuters. 24/12/2022
REUTERS/Adriano Machado
Por Andre Romani e Gabriel Stargardter
BRASÍLIA (Reuters) – Um homem preso por tentar detonar uma bomba em protesto contra o resultado da eleição no Brasil foi inspirado a montar um arsenal pelo incentivo às armas pelo presidente Jair Bolsonaro, de acordo com uma cópia do depoimento do suspeito à polícia visto pela Reuters.
George Washington de Oliveira Sousa foi preso no sábado, um dia depois que a polícia disse ter frustrado sua conspiração para detonar um artefato explosivo perto do aeroporto de Brasília.
O incidente adicionou uma nova dimensão à violência pós-eleitoral no Brasil, onde as tensões permanecem altas após a eleição mais tensa das últimas décadas.
O novo ministro da Justiça, Flávio Dino, disse em entrevista à GloboNews nesta segunda-feira que a segurança precisaria ser reforçada para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, no próximo domingo.
“Não se trata de um lobo solitário”, disse Dino sobre Sousa. “Há gente poderosa por trás disso, e a polícia vai apurar, não vamos permitir terrorismo político no Brasil.”
O advogado inicial de Sousa, Wallison dos Reis Pereira, disse que ele tinha confessado e que estava colaborando com a polícia. Seu atual advogado, Jorge Chediak, disse que ainda não falou com Sousa, que está preso, mas disse que sua confissão à polícia estava cheia de “contradições”.
Gerente de posto de gasolina no Estado do Pará, com 54 anos de idade, Sousa disse à polícia que as declarações de Bolsonaro, que promoveram dúvidas sobre o processo eleitoral, inspiraram sua viagem em 12 de dezembro à capital.
Depois de chegar a Brasília, ele se juntou a um acampamento de bolsonaristas que questionam o resultado das eleições, em frente ao quartel-general do Exército, que clamavam por um golpe.
“A minha ida até Brasília tinha como propósito participar dos protestos que ocorriam em frente ao QG do Exército, e aguardar o acionamento das Forças Armadas para pegar em armas e derrubar o comunismo”, disse ele, conforme cópia de seu depoimento.
Sousa disse que se tornou um CAC –sigla para Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador, que permite a posse de armas de fogo registradas– em outubro do ano passado, juntando-se a um grupo que aumentou em seis vezes, para quase 700.000 pessoas, desde que Bolsonaro foi eleito em 2018 e começou a afrouxar a legislação sobre armas.
Ele disse que investiu cerca de 160 mil reais desde então para aumentar seu arsenal. Ele disse que levou duas escopetas calibre 12, dois revólveres, três pistolas, um rifle, mais de mil cartuchos e cinco bananas de dinamite com ele em seu caminho para Brasília.
“O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: ‘um povo armado jamais será escravizado’ e também a minha paixão por armas que tenho desde a juventude”, disse Sousa.
Ele acrescentou que planejava compartilhar suas armas com outros CACs no acampamento de Brasília. Em 12 de dezembro, quando houve a diplomação de Lula, alguns dos acampados atacaram a sede da Polícia Federal em Brasília.
Sousa disse que desfrutou de algum nível de apoio oficial.
Após o ataque de 12 de dezembro, ele disse que policiais e bombeiros perto do acampamento lhe disseram que não prenderiam nenhum manifestante por vandalismo, desde que não atacassem policiais, o que o levou a acreditar que “em breve seria decretada a intervenção” pelas Forças Armadas .
Mas como as semanas se passaram sem um golpe, ele disse que ele e outros no campo bolaram um plano para impedir que Lula assumisse o cargo. A ideia deles, disse, era “provocar uma intervenção militar e a decretação do estado de sítio para impedir a instalação do comunismo no Brasil”.
Um esquema inicial era explodir uma bomba no estacionamento do aeroporto de Brasília, seguido de denúncias anônimas de mais duas bombas na sala de embarque, disse ele. Os conspiradores também consideraram explodir uma subestação elétrica, acrescentou.
Sousa disse à polícia que construiu a bomba em 23 de dezembro, usando a dinamite que trouxera do Pará e um dispositivo de acionamento remoto que outra pessoa do acampamento lhe deu. Ele disse que entregou a bomba a um colega do acampamento, pedindo-lhe que a instalasse perto da subestação, pois “não concordei com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto”.
Nesse mesmo dia, Sousa viu no noticiário que a polícia havia encontrado a bomba perto do aeroporto. No dia seguinte, ao ver estranhos perto de seu apartamento alugado, resolveu fazer as malas e colocar as armas no porta-malas do carro para sair de Brasília, mas foi preso pela polícia antes de poder partir.
(Reportagem adicional de Flávia Marreiro)