quinta-feira, 03 de outubro de 2024

Damien Chazelle, diretor de Whiplash e La La Land, acertou com o novo longa? Veja a crítica

Se tem algo que Hollywood ama é… Hollywood. Chega a ser piada recorrente que premiações adoram celebrar obras que dão um ‘tapinha nas costas’ da própria indústria. Mas, ao longo dos últimos anos, os filmes que falam sobre filmes passaram a tentar outras abordagens na era em que apenas grandes franquias sobrevivem, e o “resto” é relegado aos streamings.

Produções como Top Gun: Maverick, Não! Não Olhe! e Os Fabelmans tentam resgatar o brilho da experiência cinematográfica através do espetáculo, relembrando o poder que o cinema tem de, literalmente, mudar a vida de seus espectadores. Babilônia, nova produção de Damien Chazelle (Whiplash, La La Land), quer alcançar o mesmo objetivo, mas honrando a indústria como ela é: caótica, barulhenta, problemática e imortal.

O longa é ambientado na década de 20, período de transição entre os filmes mudos e com som, e mostra como um variado grupo de personagens têm suas vidas mudadas pelo cinema. Nellie LaRoy (Margot Robbie) é uma mulher extrovertida que se julga uma estrela nata, prestes a ser descoberta. Já o mexicano Manny (Diego Calva) sonha em, um dia, participar de um set de filmagem, em qualquer posição. Jack Conrad (Brad Pitt) é um ator bêbado que não sabe lidar com o fato de que pode estar ficando no passado.

Os caminhos dos três se cruzam em uma insana festa de um poderoso executivo de Hollywood. De repente, cada um passa a trilhar carreiras nas telonas e nos sets ao longo de décadas, lidando com as várias mudanças nos bastidores, na indústria e na percepção do público, um reflexo do vai-e-vem da sociedade em si. Como na vida real, os altos costumam preceder descidas vertiginosas, intensificadas pela natureza egocêntrica e gananciosa dos astros e cineastas.

Com visual exagerado, Babilônia tenta homenagear a produção da indústria cinematográfica sem deixar de reconhecer seus (vários) problemas. O mais surpreendente é que consegue acertar a mão no equilíbrio, ainda que ocasionalmente pareça enxergar muitos dos vícios de seus personagens como virtudes – o que talvez seja bastante autêntico aos erros que a própria área comete ao glorificar esses excessos.

Caos simultâneo

Para colocar o espectador nesse universo simultaneamente podre e glamouroso, Damien Chazelle cria uma obra frenética e apelativa. O cineasta retrata festas grandiosas, tomadas por jazz, drogas de todo tipo e orgias, ou então sets com centenas de figurantes e dores de cabeça, para demonstrar a dimensão dos épicos de outra era.

É verdadeiramente impressionante, especialmente em tempos de computação gráfica: há caos palpável por todo lado, e a câmera de Chazelle investiga alguns dos vários detalhes de cada cena em longos planos. Sua direção não é tão inventiva e dinâmica como em Whiplash ou La La Land, mas a enorme a escala de bizarrices ocorrendo simultaneamente ajuda a compensar a estática.

Para equilibrar o glamour e não acabar criando uma espécie de Projeto X da velha elite, o diretor apela sem medo para o humor escatológico, que ajuda a manifestar que há bastante podridão por trás da fachada de Hollywood. É um filme que abre com um elefante defecando em uma pessoa, e segue com momentos de golden shower, vômito, overdoses, dívidas de jogo, calabouços sexuais e muito mais.

Não que o cineasta precise se apoiar no caos generalizado para criar algo intrigante. Um dos melhores momentos, por exemplo, acontece quando Nellie LaRoy – já uma estrela do cinema mudo – tenta gravar uma de suas primeiras cenas com som.

O intenso bate-boca entre a equipe, as constantes refações para acertar questões que antes não eram levadas em conta, as interrupções… Os nervos vão se agravando, e o resultado é uma deliciosa e irritante troca de farpas – algo que, na real, é bem consistente com a experiência de um set.

Magia cinematográfica

Por que raios alguém se sujeitaria a tanta dor de cabeça, em uma indústria frequentemente insalubre? Para Babilônia, há um efeito quase terapêutico no cinema, uma magia que faz toda a correria, todo desentendimento e todo problema ficar de plano de fundo. O que importa é o que a câmera capta, e as reações que são despertadas no público.

Ao narrar a ascensão, fama e queda de seus personagens, Damien Chazelle cria uma tragédia que busca definir o papel do cinema em uma vida turbulenta. A resposta do cineasta é de que a arte imortaliza a vida em toda a sua dimensão, do caos à vitória. É uma definição que soa um pouco ingênua, e talvez até passe pano para muitos dos problemas da indústria que são retratados no próprio filme, mas é entregue de forma tão genuína e por um elenco tão bom, que chega a ser tocante.

O enorme charme de Margot Robbie é muito bem utilizado como Nellie LaRoy, que se vê transitando entre amada e odiada pelo público no espaço de poucos anos. Seja disparando contra um técnico de som mal educado, ou então improvisando uma cena de dança em um filme mudo, a atriz se mistura perfeitamente ao papel.

O mesmo pode ser dito de Jack Conrad, um ator em crise pelo fim de sua era, que pode muito bem soar como uma reflexão do próprio Brad Pitt. Em uma das melhores cenas do longa, que sinaliza a virada de tom da luxúria da fama para a amargura do esquecimento, Conrad discute uma crítica negativa escrita pela jornalista Elinor St. John (Jean Smart).

A jornalista, então, argumenta que a reação do público é igualmente valiosa e impessoal. Há valor na resposta, e há valor na crítica, mas o ator é aquele que carrega o fardo de ser imortalizado em película, com seus erros e acertos gravados para a eternidade. O medo do esquecimento pode até existir, mas o simples registro é a garantia de que alguém, em algum lugar, em um tempo futuro, poderá esbarrar no pequeno registro de uma vida que já não existe mais.

O momento brilha até em meio às três longas horas de duração do filme, pois demonstra como Babilônia é honesto em sua apreciação do cinema, correndo o risco de soar brega, mas nunca prepotente – o que é um pouco surpreendente partindo de Chazelle.

Esse amor todo pela arte cinematográfica não é recíproco, visto que o longa já decepcionou tanto na crítica quanto na bilheteria, mas se mantém genuíno além do fracasso. É um filme que pode não funcionar para todos, seja pela duração, pelo tom, pela vulgaridade ou mesmo pelo tema que aborda. Mas é difícil que não deixe os espectadores se questionando sobre sua própria relação com o cinema no caminho para casa.

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