No dia 31 de outubro, além do famoso Halloween, também é comemorado o dia da Reforma Protestante, quando o monge agostiniano Martinho Lutero fixou suas noventa e cinco teses nas portas da igreja do Castelo de Wittenberg. Esse fato marcou uma mudança profunda na religiosidade europeia, mas afetou também a história da música.
Um dos principais aspectos foi a mudança do foco musical com uma ênfase maior na participação da congregação e no emprego da língua vernácula nos serviços religiosos. É importante lembrar que naquela época e durante alguns séculos após a reforma protestante, as missas eram celebradas em latim.
Além do seu trabalho como reformador, Martinho Lutero era conhecido como um grande admirador da música. Era cantor e compositor, e acreditava no poder educativo e ético da música. A sua ideia era de abrir a participação dos trabalhos litúrgicos a toda a congregação, principalmente durante as músicas.
A principal contribuição musical da reforma luterana e a importante da igreja luterana é o Coral Luterano (Chorai ou Kirchenlied), um hino estrófico cantado pela congregação cujas principais características eram:
- Língua Vernácula: A ênfase foi dada aos serviços religiosos na língua usada pelo povo, que passou a substituir o latim. Essa mudança estimulou a criação de novos hinos em alemão.
- Base do Repertório: Os corais eram melodias simples que empregavam acordes simples, propícios para o canto congregacional. Essas músicas podiam ser melodias originais, baseadas em hinos anteriores, ou em canções não religiosas.
- Contrafacta: Era uma categoria de corais. Os contrafacta mantinham a melodia de canções profanas, mas substituíam o texto original por outro com um sentido espiritual. Esse tipo de adaptação de canções profanas e composições polifónicas para fins religiosos era comum neste período.
- Desenvolvimento Posterior: O coral, que consistia essencialmente em texto e melodia, podia ser enriquecido por harmonia e contraponto. A partir do final do século XVI, surgiu o Motete Coral (Chorai motet) na Alemanha protestante, onde compositores usavam as melodias tradicionais como material para livre criação artística e interpretação individual, servindo como base para grande parte da música luterana dos séculos XVII e XVIII, culminando em J. S. Bach.
Outros países da europa também foram influenciados pelo movimento da Reforma do século XVI. Na Inglaterra, surgiu a Igreja Anglicana, cujo chefe era o próprio rei. Da mesma forma que o alemão substituiu o latim como língua litúrgica, o inglês passou a ser empregado durante os serviços.
Além disso, surgiram os psalters, que eram livros nos quais se encontravam reunidos os primeiros hinos em inglês. As músicas, que ali constavam, eram traduções dos salmos bíblicos.
Passou-se também a se exigir que os compositores aplicassem às palavras “notas claras e distintas, uma para cada sílaba”. Esta foi uma mudança drástica em relação à música católica anterior, que era extremamente ornamentada, densa e melismática na qual se empregavam várias notas para uma única sílaba.
Essas mudanças tiveram como resultado o nascimento de um novo corpo de música sacra inglesa, incluindo o Service e o Anthem.
Os países influenciados pela Reforma Calvinista, como a Suíça, França e Países Baixos, promoveram algumas mudanças na música daquele tempo. Líderes, como João Calvino, opuseram-se à manutenção de elementos da liturgia católica e não aceitavam o emprego de textos que não fossem bíblicos.
A manifestação musical mais conhecida da Reforma Calvinista foi a criação de coletâneas de salmos (traduções métricas e rimadas do Livro dos Salmos). Esses textos eram acompanhados de melodias, de origem popular ou adaptadas de algum cantochão. Os salmos eram cantados originalmente em uníssono e sem acompanhamento durante os cultos.
Ao contrário do que aconteceu aos corais luteranos, o não incentivo à elaboração musical nas igrejas calvinistas impediu que as melodias dos salmos se desenvolvessem em grandes formas vocais ou instrumentais.
Essas mudanças afetaram não só aqueles primeiros anos após a Reforma Protestante. O desenvolvimento da música mudou muito graças às exigências litúrgicas derivadas daquele momento histórico. Por isso podemos dizer que o movimento iniciado por Lutero foi de certa maneira uma Reforma Musical.







