quarta-feira, 30 de abril de 2025

Conversar é coisa de mulher?

Você já ouviu essa frase: “Conversar é coisa de mulher”? Desde cedo, somos moldados a acreditar que mulheres são sentimentais, enquanto homens são racionais: uma dualidade que estabelece uma espécie de hierarquia emocional onde a fraqueza se associa à vulnerabilidade feminina e a força à razão masculina. Mas por que existe essa narrativa?

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Assim como dizem que rosa é de menina e azul é de menino, não passa de mais uma criação artificial difundida culturalmente por vários anos de patriarcado. Ainda hoje meninas são incentivadas a expressar sentimentos, a se conectar emocionalmente por meio da conversa, enquanto meninos aprendem a esconder suas emoções, a serem “fortes” e a não se deixar levar pelo que muitos consideram “frescura”. Esse aprendizado social enfraquece a capacidade de homens e mulheres de desenvolverem um autoconhecimento verdadeiro, além de evidenciar que gênero não passa de performance, ou seja, de como performamos no mundo. Vale um exemplo, se você é mulher, o que a sociedade, socialmente falando, espera de você? Que seja delicada, gentil, emotiva e outras bobagens. Não necessariamente você é delicada, mas é isso que esperam de você, logo, você precisa performar de um modo específico para se dizer “mulher”. Quem nunca ouviu alguma crítica do tipo: “nossa como você é cavala” ou “como você é insensível”? O foco aqui não é gênero especialmente, mas fica para a sua reflexão sobre essa performance que aprendemos a desempenhar, e como isso é o que faz das pessoas trans e travestis tão disruptivas, a ponto de incomodar quem não entendeu que gênero é performance e não órgão sexual.

Voltando para o “conversar”, o ato de se abrir é visto como vulnerabilidade, consequentemente como fraqueza. Na verdade, ser capaz de se abrir, de expor suas emoções e de estabelecer um diálogo genuíno pode ser uma das formas mais poderosas de força. Conversar não é exclusivo das mulheres, ou pelo menos, não deveria; é uma habilidade humana, essencial para todos, independentemente do gênero/da performance.

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Você conhece um homem que sabe conversar? Aqui conversar é sobre se abrir, dizer como se sente, não ter vergonha de chorar, não ter medo de falar dos seus limites e outras situações vistas como vulneráveis. Como esse homem é visto? A imagem desse homem é outra criação social, não necessariamente condiz com a realidade, mas molda este homem pra encaixar em um padrão “aceitável”, e como ouvimos incansavelmente “homem que é homem não chora”, esse homem que sabe conversar vai ser visto como afeminado, às vezes vão falar que ele é gay ou talvez bissexual, mas nunca que ele é o tal “homão da p**ra”.

Saber conversar vai além das relações sociais, é uma base sólida para ter saúde mental é fundamental para uma jornada de autoconhecimento. Mas como ter isso onde a pressão do capitalismo e as exigências do dia a dia podem ser avassaladoras?

Quando olhamos para o ato de conversar sob essa ótica, percebemos que tal habilidade pode ser revolucionária. Promover diálogos que respeitam a vulnerabilidade de cada um nos ajuda a construir relações mais saudáveis e a desenvolver uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do outro. A comunicação autêntica é uma via dupla, onde você ouve e é ouvido.

Já passou da hora de “conversar ser algo de todos”, mas convenhamos que uma estrutura patriarcal, machista e misógina é confortável para alguns homens continuarem no topo, com a imagem de “machão”. Todavia, ainda há esperança e é claro que é coletiva. Indico o documentário “O silêncio dos homens”, que está disponível gratuitamente no YouTube, para corroborar de que para outros homens o silêncio e esse “conversar só para mulheres” não é bom. O documentário aborda mais tópicos, como paternidade, amizade e masculinidades.

Por fim, para as mulheres, nosso papel é não replicar essa ideologia e diminuir um homem que se abriu com você, conversar é coisa de homem de também e apoiar esse comportamento é importante para criar um vínculo, seja de amizade ou amoroso. Conversar é um ato de coragem, uma forma de lutar por ser quem você realmente é, sem as definições capitalistas.

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Leticia Aguiar
Leticia Aguiar
Letícia Cristina é bibliotecária, empreendedora, costureira e amante dos cuidados capilares.

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