Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central, participou recentemente de um evento da Fami Capital em São Paulo, onde abordou o cenário econômico tanto do Brasil quanto internacional. Em sua análise, Campos Neto destacou que o Brasil está “bem posicionado” diante das políticas tarifárias implementadas pelos Estados Unidos, enfatizando a importância de manter uma postura neutra nas relações com a Casa Branca.
O ex-banqueiro central afirmou que o Brasil não é o foco das preocupações dos Estados Unidos e elogiou os esforços do país. “O Brasil tem feito um bom trabalho”, declarou, recomendando que o país busque evitar entrar em conflitos comerciais.
Impactos das tarifas e a guerra comercial
No que se refere à guerra comercial entre EUA e China, Campos Neto mencionou a possibilidade de uma “invasão” de produtos chineses no Brasil, uma vez que o fechamento do mercado americano pode aumentar a oferta de produtos importados. Ele expressou a preocupação de que esse cenário traga pressões desinflacionárias, mas também ressaltou a necessidade de avaliar como isso poderia afetar a indústria local.
Sobre as tarifas, ele ressaltou que, segundo a literatura econômica, é difícil crer que medidas tarifárias incentivem a indústria nacional ou que resultem em aumento da arrecadação.
Ajustes na política fiscal
Analisando mais amplamente a situação do Brasil, Campos Neto defendeu a necessidade de um “choque positivo” na política fiscal. Para isso, ele sugeriu a revisão dos gastos sociais e a criação de mecanismos que promovam uma “porta de saída” para beneficiários de programas sociais. A busca por eficiência através da digitalização da máquina pública para reduzir despesas também foi mencionada como essencial.
O ex-presidente do BC observou que a inflação global, especialmente após a pandemia, foi mais relacionada ao aumento da demanda devido à ampliação dos pagamentos de benefícios sociais do que a problemas de oferta.
Desempenho da política econômica da Argentina
Embora Campos Neto não tenha feito comentários detalhados sobre decisões recentes da política monetária brasileira, indicou que a autoridade monetária está realizando um “trabalho correto” a curto prazo. Ao ser questionado sobre a política econômica do presidente argentino, Javier Milei, Campos Neto comentou que o ajuste realizado por Milei é “forte e impopular”, mas parece estar no caminho certo, começando a gerar resultados positivos. No entanto, ele alertou que a Argentina ainda enfrenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio cambial.