No dia da Consciência Negra, o portal O Capixaba entrevistou o presidente da União de Negros pela Igualdade no Espírito Santo (Unegro/ES), Welington Barros.
Como você define racismo estrutural e quais as suas principais manifestações no Brasil?
“O racismo estrutura as relações sociais e econômicas no Brasil, foram aproximadamente 350 anos de trabalho escravo, e após a abolição não foram instituídas políticas públicas que incluíssem a população negra, faltou emprego, educação, saúde. A essa ausência de políticas públicas denominamos racismo estrutural.”
Qual sua participação em movimentos negros e partidos políticos atualmente? Esse envolvimento se dá por conta da luta antirracista?
“Iniciei minha militância política no enfrentamento a ditatura e na luta pela democracia em nosso país.
Vim a me identificar com a luta antirracista quando tive a oportunidade de morar durante algum tempo no início do século 21 no Maranhão, onde tive oportunidade de conhecer e vivenciar as comunidades quilombolas de Alcântara.
A partir da compreensão de que o enfrentamento ai racismo é um aspecto central na luta de classes, procuro dentro da minha militância política dentro do partido hoje no PSOL, assim como foi quando estive no PCdoB, lutar por políticas públicas que promovam a superação do racismo e das desigualdades sociorraciais historicamente construídas.”
Qual o papel dos jovens na luta antirracista e como podemos incentivar a participação deles?
“A participação da juventude é sempre muito importante, na juventude temos uma natureza profundamente revolucionária. Nosso papel enquanto que veio antes é levar conhecimento, falar de nossa ancestralidade, isso é fundamental para motivar os jovens a serem agentes da transformação social.”
Como você avalia a legislação brasileira em relação à promoção da igualdade racial? Quais as principais lacunas e avanços?
“Do ponto de vista da legislação tivemos avanços significativos nas últimas décadas com as políticas de Ações Afirmativas, como cotas nas universidades e serviço público, a lei 10.639/2003 que instituiu nos currículos escolares a história africana e afro-brasileira, a criação de um ministério para promover a equidade racial, o Estatuto da Igualdade Racial.
Portanto, avançamos do ponto de vista dos marcos legais. Contudo, desigualdades historicamente construídas ao longo de mais de três séculos, não serão superadas em pouco tempo. Sobretudo pela sub-representação de negras e negros comprometidos com a equidade racial nos espaços de poder.
Não se promove justiça social sem que se mexa em privilégios!”
Qual mensagem você gostaria de deixar para os jovens negros e para a sociedade em geral sobre a importância da luta antirracista?
“A principal mensagem para a juventude, principalmente a juventude preta e periférica é que precisamos construir coletivamente ações políticas , fundamental discutirmos uma nova política sobre drogas ilícitas, refletirmos sobre a descriminação, regulamentação e tributação das drogas ilícitas como alternativa aí encarceramento extermínio da juventude.
Outro aspecto importante é que a superação do racismo não é uma tarefa destinada a negros e negras e da sociedade como um todo.
Por isso, no Dia da Consciência Negra reverenciamos Zumbi dos Palmares, ele que simboliza a luta pela liberdade!”
