Uma equipe acompanhou uma paciente de 60 anos que vivia com obesidade severa. Ela apresentava pensamentos persistentes sobre comer mesmo sem sentir fome e já havia recorrido a diversas intervenções, como cirurgia bariátrica, mudanças no estilo de vida, medicamentos e acompanhamento psicológico, sem obter melhora.
A voluntária integrava um estudo experimental que previa a implantação de eletrodos no cérebro para captar, em tempo real, os sinais elétricos que antecedem episódios de compulsão alimentar. A técnica, conhecida como eletroencefalografia intracraniana, é rara em pesquisas porque exige um procedimento cirúrgico.
Observação durante o uso do medicamento
Antes da cirurgia, a paciente iniciou o uso de Mounjaro para o controle do diabetes tipo 2. Esse contexto ofereceu aos pesquisadores uma oportunidade inédita de verificar como o fármaco modifica diretamente os padrões elétricos no núcleo accumbens, região cerebral associada ao prazer, à motivação e aos impulsos.
Nos meses iniciais, o núcleo accumbens da paciente apresentou-se “silencioso”, sem os sinais típicos que precedem a vontade intensa de comer. Ela relatou que o chamado “food noise” desapareceu completamente.
Após cerca de cinco meses, os sinais elétricos retornaram e a preocupação constante com a alimentação reapareceu. Ou seja, o efeito do Mounjaro sobre a atividade cerebral foi evidente, mas transitório. Nos demais participantes do estudo que não receberam tirzepatida, a atividade neural permaneceu elevada, com padrão compatível com episódios de compulsão alimentar.









