Nas últimas semanas, a morte súbita de uma jovem de 22 anos durante um treino em uma academia em Copacabana, Rio de Janeiro, despertou preocupações. As investigações revelaram que não havia desfibrilador no local, embora uma lei estadual de 2022 exigisse sua presença. A causa da morte ainda não foi confirmada, mas amigos relataram que a jovem tinha um problema cardíaco sob controle médico.
Frequência de mortes súbitas em jovens
Especialistas destacam que mortes súbitas em indivíduos menores de 30 anos são raras, geralmente relacionadas a doenças genéticas que afetam o coração. Em contraste, em pessoas acima dos 30 anos, infartos são a principal causa. A maioria das vítimas, especialmente homens, desconhecia seu diagnóstico. Além disso, cerca de 25% das fatalidades permanecem sem explicação, devido à ausência de alterações anatômicas visíveis.
A cardiomiopatia hipertrófica é a condição mais comum entre jovens, causando o espessamento do músculo cardíaco. Outras doenças também podem causar mortes súbitas, sendo que alguns casos apresentam corações estruturalmente normais, indicando causas desconhecidas em nível molecular.
Arritmias e a morte súbita
As arritmias cardíacas são frequentemente fatais. Entre as formas mais perigosas, a fibrilação ventricular é uma das principais responsáveis pelas mortes súbitas. Quando uma pessoa morre repentinamente sem causas aparentes, há 80% de chance de que uma arritmia fatal tenha contribuído. Casos recentes, como a morte do jogador Juan Manuel Izquierdo aos 27 anos, reforçam a importância de um diagnóstico adequado, já que ele tinha histórico de arritmia cardíaca.
Autoavaliação e cuidados médicos
Os especialistas ressaltam que muitos diagnósticos são silenciosos, dificultando a identificação de riscos. A avaliação médica é essencial, especialmente para quem inicia atividades físicas intensas. Aqueles com histórico familiar de doenças cardíacas ou que apresentam sintomas como palpitações devem considerar uma consulta cardiológica antes de treinar.
Os sintomas de alerta incluem história familiar de morte súbita, palpitamentos, tonturas ou desmaios. Um ponto destacado pelos cardiologistas é o uso do Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q), que ajuda a identificar a necessidade de avaliação médica antes do exercício.
Mortes súbitas: uma questão de visibilidade?
Apesar de preocupações crescentes, dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) mostram que a taxa de mortes súbitas entre jovens é, de fato, baixa, variando entre 23 e 71 casos anuais entre 2014 e 2023. Com uma população de 85,4 milhões de brasileiros nessa faixa etária (segundo o Censo de 2022), a estatística revela que a frequência de tais casos não está aumentando, mas sim ganhando maior visibilidade, em grande parte devido às redes sociais.
Entretanto, dois fatores de risco são levantados: o aumento do uso de anabolizantes e a ocorrência de infartos precoces, que têm se tornado mais relevantes. O uso de esteroides está associado a um incremento considerável no risco cardiovascular.
Mudanças nos hábitos e saúde cardíaca
O infarto, que ocorre pela obstrução do fluxo sanguíneo ao coração, está se tornando mais comum em pessoas mais jovens, com um aumento de 57,49% em registros entre 2015 e 2024 na faixa etária de 20 a 39 anos. A obesidade, o sedentarismo e o uso excessivo de bebidas energéticas contribuem para essa tendência, podendo desencadear arritmias e ataques cardíacos em indivíduos vulneráveis.
A importância de saber lidar com esses fatores e manter hábitos saudáveis não pode ser subestimada. Além disso, locais com alta circulação de pessoas, como academias, devem ter desfibriladores e pessoal treinado para agir em situações de emergência, pois as chances de sobrevivência aumentam significativamente quando o atendimento é rápido.
Por fim, especialistas afirmam que não há qualquer evidência que relacione a vacinação contra a Covid-19 com mortes súbitas. A existência de uma ampla população vacinada não mostra um aumento significativo em episódios fatais, desmistificando associações infundadas. A discussão sobre esse tema deve ser pautada por dados científicos, evitando desinformação e riscos à saúde pública.