Começa um dos meses mais agradáveis do ano. Há quem não aprecie dezembro, o que merece respeito; ainda assim, o mês tem seu charme: o clima natalino e a sensação de fechamento anual, mais um ano de vida. Mantêm-se os encontros e reencontros familiares; que discussões políticas, religiosas ou sobre futebol não perturbem nem fragmentem os laços. Que prevaleça o respeito às opiniões diversas, com mais escuta e menos imposição.
Falando em reuniões de família, seguem recomendações culturais. Um filme em cartaz é fortemente indicado para mães, pais e avós: Mãe Fora da Caixa. A obra foi conferida em duas sessões, numa cabine de imprensa destinada a jornalistas e em sua pré-estreia com presença de acompanhante, e a crítica cultural a considera uma boa produção. Eis os motivos.

Mãe Fora da Caixa é uma comédia sensível e honesta sobre o puerpério.
Baseado no best-seller de Thaís Vilarinho e na peça que lotou teatros pelo país, o filme de Manuh Fontes combina humor, emoção e identificação genuína. Miá Mello entrega uma interpretação marcante ao expor os desafios físicos e emocionais da maternidade. A produção aborda temas como rede de apoio, saúde emocional e relações familiares, ampliando o debate sobre maternidade sem idealizações. Com direção de tom delicado, Mãe Fora da Caixa provoca risos e reflexões: quem ainda não tem filhos pensa no futuro e se prepara; quem já os tem rememora, diverte-se e chora.
Jafar Panahi
Outra sugestão é Foi Apenas um Acidente, que estreia nos cinemas como um drama crescente. O longa acompanha um grupo de ex-prisioneiros políticos que acredita ter reconhecido o torturador que os perseguiu. A narrativa se desenvolve entre dúvida, memória e busca por justiça, enquanto Panahi constrói um drama tenso sobre culpa, violência e os limites éticos da vingança. O filme tem sido celebrado internacionalmente: venceu a Palma de Ouro em Cannes 2025, foi destaque no Gotham Awards com prêmios de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Internacional, e também conquistou o Asia Pacific Screen Award.

O reconhecimento internacional contrasta com a situação do diretor no Irã. Panahi permanece sob forte repressão: foi recentemente condenado a um ano de prisão e proibido de deixar o país, acusado de “propaganda contra o sistema” após o êxito do filme. Desde 2010 enfrenta censura, restrições e detenções por suas posições críticas e pelo apoio a protestos sociais. Rodado de forma clandestina, Foi Apenas um Acidente impressiona pela condução e pelas reflexões que propõe. Os traumas dos personagens, a fúria e as marcas deixadas pela crueldade de um regime autoritário são intensos, e o desfecho do longa é notável. Vale a visita à sala escura.
Bugonia
Bugonia também foi exibido em cabine de imprensa, embora seja um filme de difícil classificação. A começar, vale a pena assistir pela performance de Emma Stone; tanto sua presença em cena quanto a maneira como é filmada se destacam. A trama acompanha dois jovens dominados por teorias conspiratórias que resolvem sequestrar a CEO de uma megacorporação. Convencidos de que ela é uma alienígena infiltrada com a missão de destruir a Terra, elaboram um plano caótico que mistura paranoia, humor ácido e crítica social.

A narrativa instala uma tensão que ora diverte, ora inquieta, ao explorar como crenças distorcidas, bolhas digitais e radicalização online convertem pessoas comuns em agentes de violência. Tudo ganha forma por meio de um visual estilizado e de um roteiro que flerta com a fronteira entre fantasia e delírio. O final provoca ambivalência: estimula reflexões sobre o planeta e o lugar do ser humano nele e, ao mesmo tempo, deixa questões em aberto quanto ao destino de Teddy, interpretado por Jesse Plemons. Trata-se de um filme estranho.
Mostra Nouvelle Vague Japonesa ocupa a CAIXA Cultural
De 9 a 21 de dezembro, a CAIXA Cultural apresenta uma mostra inédita dedicada à Nouvelle Vague japonesa, com mais de 20 filmes essenciais dos anos 1960 e 1970, assinados por nomes como Oshima, Imamura, Teshigahara e Yoshida. As sessões são gratuitas e incluem debates, minicursos, apresentações musicais e exibições em 16 mm — um mergulho profundo em uma das vanguardas cinematográficas mais inventivas do mundo.

O Casal Mais Sexy da América encerra temporada no ParkJacarepaguá. Depois de circular por 25 cidades e reunir mais de 50 mil espectadores, a comédia romântica estrelada por Vera Fischer, Leonardo Franco e Vitor Thiré faz suas últimas duas apresentações do ano nos dias 5 e 6 de dezembro, no Multiplan Hall, no ParkJacarepaguá. A montagem, dirigida por Tadeu Aguiar, revisita temas como etarismo, igualdade de gênero e os bastidores da TV a partir do reencontro de duas estrelas marcadas pelo passado. É uma oportunidade rara de ver Vera Fischer em cena numa obra leve, afiada e carregada de memória afetiva teatral.
1Kilo com show gratuito em São Gonçalo A Quadra da Porto da Pedra recebe, no dia 6 de dezembro, o evento Ouro do Bairro, promovido pela gravadora 1Kilo. A programação gratuita ocorre das 14h às 22h, com oficinas de rima, grafite, break, batalha infantil e um pocket show às 20h, reunindo artistas consagrados e novos talentos de São Gonçalo e Niterói. Um encontro que fortalece a cultura periférica, cria pontes e devolve à comunidade o som que nasce nela.
A Efêmera Beleza das Flores estreia no Theatro Municipal O monólogo protagonizado por Luellem de Castro ocupa a Sala Mário Tavares nos dias 7 e 14 de dezembro. Escrita por Cícero Nogueira de Brito e coassinada pela atriz, a peça apresenta Ayodele, uma mulher negra que atravessa o luto da maternidade. A dramaturgia é íntima, ritualística e atravessada por ancestralidade. Com direção de Larissa Porto e Teddy Zany, o espetáculo é gratuito, com sessões às 14h e às 17h.

Alcides Sodré lança EP no Centro Cultural da Justiça Federal No dia 9 de dezembro, o cantor e compositor Alcides Sodré apresenta o show Em Mar Aberto, às 19h, no CCJF, na Cinelândia. No repertório constam inéditas do futuro álbum Santo de Casa, previsto para 2026, além de faixas como Em Mar Aberto, parceria de Kiko Furtado e Daniel Gonzaga. A apresentação reafirma Sodré como uma voz destacada da nova MPB, com interpretação firme e repertório cuidadoso.
Sextante leva jazz brasileiro contemporâneo ao Rio e a Paraty em dezembro O grupo instrumental Sextante, liderado pelo saxofonista franco-brasileiro Jérôme Charlemán, realiza três apresentações gratuitas em dezembro: no Rio de Janeiro, dias 3/12 (Teatro Glauce Rocha) e 4/12 (Centro da Música Carioca Artur da Távola), e em Paraty no dia 11/12 (Casa da Cultura de Paraty). Com participação especial da cantora Manu Cavalaro, os shows trazem repertório autoral que mistura jazz contemporâneo, rock, bossa nova, ciranda caiçara e influências latino-americanas.








