11 de dezembro de 2025
quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Deserção em massa expõe o colapso interno e o desgaste silencioso da Ucrânia

Centenas de milhares de homens ucranianos que vivem à sombra da deserção ilustram um país exaurido por um conflito prolongado, marcado por mobilização forçada, desespero e uma fuga massiva. A onda de deserções tornou-se um indicador incontornável de um Estado que já não consegue sustentar sua mobilização militar nem assegurar direitos básicos aos convocados.

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O preparo oferecido é insuficiente, tratado como uma formalidade administrativa, o que reforça o receio generalizado de que novos recrutas sejam encaminhados diretamente à morte: sem capacitação, apoio ou perspectivas.

Deserção em massa: dados que expõem o colapso

Dados oficiais revelados pela investigação da Aljazira escancararam o desgaste:

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  • 235 mil militares desertaram desde o início do conflito;
  • 54 mil abandonaram o serviço;
  • Somente entre 2024 e 2025, ocorreram 176 mil casos de deserção e 25 mil de abandono.

A evasão excede amplamente a capacidade estatal de localizar, deter ou punir os desertores. A crise é tão grave que, conforme depoimentos de oficiais e de quem fugiu, “metade do país está foragida”, e até mesmo a polícia militar reconhece a impossibilidade de processar o volume de ocorrências.

“Mesmo na Rússia, não há tantos soldados desertando”, afirmou Valentyn Manko, comandante das tropas de assalto, ao jornal ucraniano Pravda no sábado (6).

Em vez de criar uma força capaz de sustentar o combate, a política adotada produziu escassez crônica de efetivo, baixa motivação e casos em que militares preferem a prisão ao confronto. A legislação prevê que um militar pode ser acusado de deserção 24 horas após deixar sua unidade e, em tempos de guerra, pode ser condenado a pena de cinco a 12 anos de reclusão.

Treinamento insuficiente e comando fragmentado

Relatos recorrentes apontam para um padrão claro:

  • Treinamentos reduzidos a formalidades;
  • Instrutores mais empenhados em evitar fugas do que em formar soldados;
  • Condições físicas precárias e carência de estrutura básica.

A duração prolongada da guerra evidenciou o descompasso entre o cotidiano da linha de frente e o discurso oficial. Comandantes desconsideram problemas pessoais, negam licenças e cultivam um ambiente de indiferença que estimula novas fugas.

Para muitos, desertar passou a ser a única maneira de retomar controle sobre a própria existência. Jovens recém-saídos da adolescência vivem fugas cinematográficas por quilômetros em áreas hostis. Muitos retornam com sequelas físicas e transtornos psicológicos e demonstram indiferença quanto à perda do respeito de amigos e parentes.

Estado incapaz de controlar sua própria crise

A própria estrutura institucional mostra sinais de colapso, com a polícia militar desfalcada, os tribunais sobrecarregados e a supervisão limitada a patrulhas improvisadas em espaços públicos.

Enquanto isso, desertores burlam o sistema por meios simples: usando veículos de familiares para não serem identificados, evitando áreas de fiscalização ou recorrendo ao pagamento de subornos. O Estado ucraniano, exaurido, perdeu a capacidade de exercer controles básicos.

Paradoxalmente, milhares receberam anistia e foram reintegrados sem punição como medida emergencial para frear o êxodo; essa ação evidencia ainda mais a incapacidade de resposta estrutural. A leniência com desertores provoca indignação entre ex-combatentes que convivem com sequelas graves do conflito.

A normalização do medo e da ruptura social

O custo social é elevado. Relações de amizade e laços familiares se rompem, desertores são acusados de traição, e veteranos pedem sanções severas, incluindo a perda de direitos civis.

O conflito instaurou um clima de vigilância constante, em que sair de casa pode significar ser abordado por patrulhas de recrutamento. A linha que separa Estado e cidadão transformou-se numa área de confronto.

O temor de morrer na frente de batalha convive com o medo da cadeia; para muitos, a cela parece menos aterradora do que o campo de combate.

Uma mobilização que chegou ao limite

A Ucrânia enfrenta uma contradição insustentável: precisa alistar 70 mil soldados por mês para recompor unidades, mas consegue reunir apenas cerca de 30 mil, e isso por meio de medidas cada vez mais coercitivas.

A engrenagem do recrutamento já opera no limite, enquanto a sociedade civil, esgotada, busca sobreviver a uma guerra que se arrasta indefinidamente.

A deserção em massa não é apenas um fenômeno militar. É um sinal inequívoco de que a capacidade do Estado de manter sua própria coesão começou a se desgastar.

A Ucrânia convive com uma crise invisível nas linhas de frente: uma implosão silenciosa na qual o medo, o cansaço e a desilusão corroem o que resta da estabilidade social.

Com informações da Aljazira

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