O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou na segunda-feira (17) estar disposto a autorizar operações militares em solo mexicano para enfrentar o narcotráfico. A afirmação aprofunda a tensão diplomática com o governo de Claudia Sheinbaum e coincide com a maior mobilização militar americana no Caribe em mais de meio século.
O republicano afirmou que os EUA farão “o que for preciso para parar drogas”; a declaração representa mais uma tentativa de intimidação psicológica na região.
Durante conversa com repórteres no Salão Oval, Trump admitiu a possibilidade de uma intervenção direta ao ser questionado sobre eventuais ataques em território mexicano ou o envio de tropas ao país.
“Lançar ataques no México para parar drogas? OK para mim, o que quer que tenhamos de fazer para parar drogas. Olhei para a Cidade do México no fim de semana, há alguns grandes problemas por lá”, afirmou.
O presidente evitou dizer se agiria apenas com o consentimento do governo mexicano, afirmou que “não vai responder a essa pergunta” e que já mantém diálogo com o país, que “sabe qual é sua posição”.
Trump afirmou ainda que os EUA conhecem “todas as rotas” e “os endereços de cada chefão das drogas”, descrevendo a situação como “uma guerra”.
Em outro momento, ampliou a ameaça ao dizer que ficaria “orgulhoso” de destruir laboratórios de cocaína na Colômbia: “A Colômbia tem fábricas de cocaína. Eu derrubaria essas fábricas? Teria orgulho de fazer isso pessoalmente”, declarou. A embaixada colombiana em Washington não se pronunciou sobre as falas.
As declarações marcam uma nova etapa na campanha militar que Washington tem intensificado nos últimos meses.
Expansão militar no Caribe
Reportagens nos EUA indicam que as Forças Armadas norte-americanas já efetuaram 22 ataques com mísseis contra embarcações que, segundo o Pentágono, eram utilizadas para transportar drogas a partir da Venezuela, resultando em mais de 80 mortos, incluindo cidadãos colombianos.
Desde a última quinta-feira (13), a operação “Lança do Sul” deslocou entre 12 mil e 15 mil militares para o Caribe e colocou em serviço o porta-aviões Gerald Ford, o mais moderno e de maior porte da frota.
Trata-se da maior presença militar dos EUA na região em algo entre 35 e 60 anos, conforme o critério adotado para a comparação.
A ofensiva reacendeu dúvidas sobre os objetivos reais da operação, sobretudo depois que o Departamento de Estado classificou o cartel venezuelano dos Soles, que Washington diz ser chefiado por Nicolás Maduro, como organização terrorista estrangeira, medida que cria fundamento legal para ações em solo venezuelano.
Reações e diplomacia regional
Em resposta, o presidente da Venezuela afirmou buscar “paz” e chegou a entoar trechos de “Imagine”, de John Lennon, durante um discurso no domingo (16).
No México, as afirmações de Trump ampliaram o desconforto com a nova política de segurança dos EUA. A presidente Claudia Sheinbaum reiterou na semana passada que não permitirá a atuação de tropas norte-americanas em território mexicano.
“Jamais colocaremos nossa soberania em risco, jamais colocaremos a independência do México em risco. Nunca permitiremos que o Exército dos EUA coloque os pés em território mexicano”, afirmou Sheinbaum.
O governo mexicano também refutou reportagens da NBC News que sugeriam o início de um plano de Washington para enviar forças e agentes de inteligência ao país com o objetivo de atacar cartéis.
A tensão regional, contudo, sofreu uma guinada inesperada. No domingo, Trump disse que cogita abrir negociações com Nicolás Maduro, mesmo após meses de escalada militar e novos ataques no Caribe.
“Podemos ter algumas discussões com Maduro e veremos como isso vai acabar”, declarou o presidente a repórteres antes de voltar a Washington. Questionado sobre o que significaria essa disposição para dialogar, afirmou não saber, mas acrescentou que “converso com qualquer um”.
Apesar dessa abertura verbal, o republicano reafirmou que não descarta nenhuma opção em relação a uma eventual intervenção militar na Venezuela: “Eu não descarto nada. Apenas precisamos cuidar da Venezuela”, declarou.
Com a concentração de forças navais no Caribe e as ameaças simultâneas ao México, à Colômbia e à Venezuela, cresce a preocupação entre governos latino-americanos de que os EUA iniciem uma nova fase de intervenções unilaterais na região sob a justificativa do combate ao narcotráfico.
Para o México, o tema tem importância particular: além da vizinhança geográfica, o país carrega a memória de intervenções norte-americanas e preserva uma tradição diplomática centrada na defesa da soberania e da não intervenção, princípios que Sheinbaum reafirmou diante da pressão de Washington.









