O agricultor Franklin Carmack, do Tennessee, divide o tempo entre o cultivo e trabalhos esporádicos fora da propriedade. Na quinta geração da família no mesmo terreno, ele comercializa camisetas, dirige caminhões e repara embarcações para tentar manter a fazenda fundada no fim do século XIX.
A rotina improvisada tem cobrado seu preço: Carmack toma quatro comprimidos por dia para controlar a pressão arterial e convive com o medo de ser quem interromperá a continuidade familiar iniciada naquela época.
Ele se pergunta o que restará em um ou dois anos e teme ser o responsável por encerrar uma história agrícola que começou no final dos anos 1800, disse à imprensa.
Esse caso não é isolado. Produtores pelo país relatam a combinação de custos em alta, preços deprimidos e as incertezas causadas pela política comercial dos Estados Unidos.
Segundo dados do Departamento de Agricultura, as principais lavouras, milho, soja, trigo e algodão, não têm apresentado lucro consistente desde 2022, enquanto insumos como sementes, fertilizantes, peças e combustível subiram mais de 30% nos últimos cinco anos.
A nova leva de tarifas impostas pelo governo de Donald Trump agravou a situação no campo americano, empurrando agricultores para prejuízos, endividamento e múltiplas atividades remuneradas. O cenário já aumenta falências e pressiona a saúde mental em áreas rurais.
A pressão financeira levou produtores a medidas inesperadas: Carmack e o amigo Jeffrey Daniels, que também cultiva algodão, soja e milho, produziram 250 camisetas, vendidas a US$35 cada, na tentativa de compensar perdas nas plantações.
O resultado foi insuficiente: juntos, os dois estimam um prejuízo de cerca de US$800 mil em 2025.
A deterioração das finanças ocorre enquanto produtores enfrentam juros elevados, demanda externa enfraquecida e queda nos preços do algodão, afetados pela expansão de tecidos sintéticos. Carmack diz que a moral do setor está no nível mais baixo que já viu e que muitos produtores chegaram ao limite.
No mesmo período, a instabilidade provocada pelas disputas comerciais ampliou as incertezas: tensões com a China já vinham pressionando os preços desde a administração anterior.
Em 2025, a nova rodada de tarifas implementada por Donald Trump causou o maior impacto sobre o setor, aumentando barreiras, travando vendas e deixando os agricultores sem perspectivas de planejamento.
Falências, saúde mental e o impacto das tarifas
O quadro econômico tem trazido consequências sociais duradouras: as falências agrícolas subiram 57% no primeiro semestre de 2025, segundo estatísticas federais.
Em alguns condados rurais, organizações comunitárias registram aumento nas solicitações de apoio psicológico e maior ocorrência de crises emocionais entre produtores. Em Missouri, o grupo Shelby County Cares relata mais chamadas de emergência e atendimentos desde o início do ano.
A diretora Jolie Foreman afirma que a região conta com apenas um terapeuta para 6 mil habitantes e diz ter conhecido agricultores que se suicidaram.
O pai do marido de Foreman, agricultor desde a década de 1970, perdeu três parentes por suicídio. Dados do CDC mostram que a taxa entre trabalhadores rurais é três vezes superior à da força de trabalho em geral.
As tarifas contribuíram para agravar esse cenário. A soja, principal cultura de exportação dos EUA, movimentou quase US$25 bilhões no ano anterior, com a China como maior compradora.
Em maio, Pequim suspendeu totalmente a compra de soja americana em retaliação às tarifas de Trump, paralisando vendas e deixando estoques encalhados. Daniels observa que qualquer peça de pulverizador importada da China fica sujeita a tarifa, custo imediatamente repassado aos produtores.
Embora Trump tenha anunciado um acordo anual com o presidente Xi Jinping e prometido US$13 bilhões em ajuda federal, agricultores afirmam que o pacote não altera os fundamentos da crise.
Na avaliação de Carmack, o auxílio pode ajudar a quitar algumas contas, mas não resolve o problema estrutural: é apenas um curativo quando seriam necessários pontos.
Mesmo entre apoiadores do ex-presidente, a frustração aumenta. Condados dependentes da agricultura deram a Trump cerca de 80% dos votos na última eleição, mas, pressionados pela conjuntura, os produtores têm levado queixas a políticos republicanos em encontros públicos e cobrado soluções alternativas.
Daniels diz que muita gente está decepcionada e que, por enquanto, não dá para afirmar se existe um método por trás das medidas adotadas.
Carmack afirma estar disposto a expor sua realidade ao presidente, mostrando a rotina de limpeza de equipamentos, o despacho de caminhões e a luta para pagar as contas, e então apresentando uma pilha de boletos para evidenciar quanto recebe pela safra. Ele acredita que seria fácil perceber que o modelo atual não se sustenta.









