A noção do “país perfeito” é uma ilusão. Ao mencionar os Estados Unidos, é comum que muitos tragam à tona o mito de um paraíso global — um lugar de oportunidades ilimitadas, liberdades plenas e padrão de vida superior.
Esse quadro idealizado, amplamente disseminado nas redes sociais, na cultura pop e entre aqueles que almejam o “sonho americano”, costuma não resistir ao exame de dados e fatos concretos.
Em contraste com essa narrativa de superioridade, os EUA confrontam problemas estruturais graves que desmentem a ideia de serem “o melhor país do mundo”.
Saúde, pobreza, educação e direitos: falhas que dizem mais
- Sistema de saúde ineficiente e desigual: apesar dos gastos per capita superiores aos de outras nações ricas, o desempenho americano está entre os piores do grupo. Uma parcela significativa da população fica sem cobertura de saúde adequada, com acesso restrito a tratamentos; a insegurança sanitária atinge principalmente pobres e minorias.
- Desigualdade social e pobreza persistente: milhões de pessoas vivem em condições precárias, sem acesso pleno a direitos básicos, enquanto uma minoria acumula riqueza de forma desproporcional.
- Direitos humanos fragilizados: o país evita ratificar pactos fundamentais, como a Convenção sobre os Direitos da Criança, e convive com elevadas taxas de encarceramento, violência policial e desigualdades raciais arraigadas.
- Índices sociais piores que de várias nações consideradas “menos desenvolvidas”: indicadores como mortalidade infantil, mortalidade materna e outros critérios de bem‑estar frequentemente posicionam os EUA atrás de muitos países da Europa, da Ásia e até de alguns da América Latina.
Por que esse mito persiste
O mito dos Estados Unidos como “país paraíso” sobrevive apesar das desigualdades internas e, muitas vezes, por causa delas. Essa imagem recebe reforço do poder dos meios de comunicação, do brilho de Hollywood, da difusão cultural e da idealização pessoal.
Para quem busca mobilidade social, é mais confortável crer que a América é o “vale das oportunidades” do que confrontar a dureza da realidade enfrentada por muitos ao chegar ao país.
Além disso, o excepcionalismo americano, a ideia histórica de que os EUA seriam um modelo civilizatório, sustenta essa sensação de superioridade moral e institucional. Essa visão se manifesta, entre outras tradições, na doutrina conhecida como “Destino Manifesto”.
No entanto, essa idealização tende a ocultar o preço humano de um modelo que usa a desigualdade como motor econômico, financia a saúde pela exclusão e encobre a miséria com poderio militar e soft power cultural.
Convite à reflexão realista
Não se pretende aqui negar conquistas americanas: inovações científicas, importância econômica e relevância geopolítica permanecem. Ainda assim, a versão romantizada do “melhor país do mundo” desconsidera — por escolha ou comodidade — deficiências profundas que afetam milhões diariamente.
Mais do que perpetuar o mito, é necessário observar o país com olhar crítico e informado, identificar contradições e evitar idealizações que naturalizam desigualdades e injustiças em expansão.
A busca por um mundo melhor não passa pela adoração de modelos incompletos, mas pela construção de realidades mais justas, tanto localmente quanto internacionalmente.









