5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Nova York decide a eleição para prefeito, com Mamdani na liderança

Em pleno governo Trump, a cidade mais rica dos Estados Unidos pode eleger um socialista para comandá-la. A votação desta terça-feira em Nova York opõe Zohran Mamdani, 34 anos, apoiado por Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, ao ex-governador Andrew Cuomo, que disputa como independente e recebe o apoio público do presidente Donald Trump.

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A corrida tornou-se um emblema da colisão entre o poder financeiro e a nova esquerda urbana.

O sufrágio segue aberto até as 21h, no horário local, depois de uma rodada de votos antecipados e de cédulas enviadas por correio na semana anterior. A Junta Eleitoral de Nova York informou que 735 mil eleitores já depositaram seus votos antecipadamente: número mais de quatro vezes superior ao registrado em 2021.

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Além do pleito nova-iorquino, eleitores norte-americanos escolhem governadores em Nova Jersey e na Virgínia e decidem uma proposta de redesenho distrital na Califórnia.

O conjunto de urnas é visto pela imprensa nacional como o primeiro grande teste eleitoral do segundo mandato de Donald Trump, iniciado há nove meses e marcado por conflitos institucionais e desaceleração da atividade econômica.

Em Nova York, a campanha escancarou as divisões ideológicas nos Estados Unidos. Mamdani disputa com o ex-governador Andrew Cuomo, que tenta retorno como independente após perder as primárias democratas, e com o republicano Curtis Sliwa, fundador do grupo de patrulha civil Guardian Angels.

A corrida se inflamou com ameaças diretas de Trump, que endossou Cuomo e avisou que reduzirá repasses federais caso a cidade “caia nas mãos da extrema esquerda”.

Quem é Zohran Mamdani e o que ele propõe

Filho de imigrantes indianos, nascido em Uganda e criado no Queens, Zohran Mamdani emergiu como uma das vozes mais destacadas da nova esquerda nos Estados Unidos.

Aos 34 anos, o deputado estadual representa a corrente socialista dentro do Partido Democrata e advoga mudanças estruturais alinhadas às pautas de Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez — ambos entre seus principais apoiadores nesta disputa.

Eleito para a Assembleia de Nova York em 2020, Mamdani ganhou visibilidade ao criticar a influência do capital financeiro sobre a vida urbana. Sua plataforma para a prefeitura prioriza a redistribuição do espaço e da riqueza, com medidas que confrontam diretamente o mercado imobiliário.

Dentre suas propostas estão o congelamento dos aluguéis por cinco anos, impostos progressivos sobre imóveis desocupados e grandes fortunas, transporte público gratuito e expansão de moradias públicas mediante controle estatal do solo urbano.

O slogan da campanha — “New York is Not For Sale” (“Nova York não está à venda”) — sintetiza a crítica ao predomínio de incorporadoras e fundos de investimento nas decisões locais. Em seus discursos, Mamdani coloca a eleição como uma disputa “entre o direito de morar na cidade e o poder do capital”.

Ele relaciona a crise habitacional à “herança do capitalismo financeiro”, argumento usado para afirmar que Nova York se tornou uma “vitrine da especulação global”.

Com linguagem direta e forte apelo popular, o candidato mobilizou jovens, trabalhadores e comunidades de imigrantes, sobretudo em bairros periféricos como Astoria, Jackson Heights e Corona, onde manteve redes de apoio comunitário e militância de base.

Pesquisas recentes o apontam com 46,1% das intenções de voto, vantagem de 14 pontos sobre Andrew Cuomo e de quase 30 pontos em relação a Curtis Sliwa.

Como Nova York adota o sistema de maioria simples, vence quem obtiver mais votos, mesmo sem alcançar 50% dos válidos. Ainda assim, um triunfo com maioria absoluta seria interpretado como mandato claro para uma agenda socialista, projetando Mamdani como nova liderança nacional do campo progressista.

A força da campanha surpreendeu até observadores clássicos do Partido Democrata. Analistas destacam que o socialista ampliou o eleitorado progressista ao incorporar questões de segurança e qualidade de vida a uma plataforma econômica de redistribuição.

Seu discurso combina crítica social com pragmatismo administrativo, apresentando a cidade como um lugar que deve “produzir bem-estar, e não lucros para poucos”.

Adversários e interferência direta de Trump

A tentativa de retorno de Andrew Cuomo virou um dos temas mais sensíveis da disputa. Governador entre 2011 e 2021, renunciou após denúncias de assédio sexual e agora busca se reposicionar como gestor pragmático e alternativa ao radicalismo.

Sua campanha, entretanto, ganhou nova dimensão quando Donald Trump declarou apoio público a Cuomo.

O presidente pediu votos para o ex-governador, classificou Mamdani como “ameaça à segurança nacional” e ameaçou cortar recursos federais caso o socialista seja eleito. A declaração foi repudiada por prefeitos e parlamentares democratas, que a interpretaram como tentativa de interferência autoritária em um processo eleitoral municipal.

O republicano Curtis Sliwa, de 71 anos, também compete, embora apareça distante nas pesquisas. Figura conhecida da direita local, ele promete “restaurar a ordem” e remete ao clima de insegurança dos anos 1980, período em que fundou os Guardian Angels.

Na reta final, Mamdani reagiu às pressões de Trump, afirmando que “a democracia não pode ser negociada por chantagens federais” e que Nova York “não se curva a presidentes que governam pelo medo”.

Racha democrata e volta das figuras nacionais

A eleição em Nova York evidenciou a fragmentação do Partido Democrata, dividido entre a ala progressista e o establishment tradicional. Cuomo, embora concorra como independente, atrai parte da base sindical e empresarial, enquanto Mamdani representa a renovação política.

Para evitar o esgarçamento interno, lideranças nacionais retornaram à campanha. O ex-presidente Barack Obama percorreu Nova Jersey e Virgínia pedindo votos para democratas e criticando a “ilegitimidade do trumpismo”.

Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez participaram de comícios no Queens, reafirmando Mamdani como símbolo da resistência progressista.

“O partido Democrata está fragmentado. Precisa de vitórias locais para provar que ainda tem rumo”, afirmou Larry Sabato, da Universidade da Virgínia, à imprensa.

No campo republicano, a narrativa de Trump domina o debate nacional. O presidente busca manter-se como referência política, atuando como cabo eleitoral e liderança informal do partido.

O desfecho das eleições será usado para medir a força real do movimento político sob influência de Trump.

Outras votações e o clima político nacional

Enquanto as atenções se concentram em Nova York, outras disputas reforçam o caráter nacional do pleito desta terça-feira.

Na Virgínia, a democrata Abigail Spanberger lidera sobre a republicana Winsome Earle-Sears em uma eleição marcada pelos efeitos do shutdown federal e pelos cortes orçamentários promovidos pela administração Trump.

Em Nova Jersey, a democrata Mikie Sherrill e o republicano Jack Ciattarelli aparecem tecnicamente empatados, em uma corrida em que o custo de vida é o tema central.

Na Califórnia, a chamada Proposição 50 tende a ser aprovada e autorizará o redesenho do mapa eleitoral do estado, modificando as fronteiras de cinco distritos que hoje elegem representantes republicanos para a Câmara.

A medida, proposta pelo governador Gavin Newsom e por democratas locais, tem o objetivo de corrigir o desequilíbrio político criado após um redesenho promovido no Texas no início do segundo mandato de Trump.

Em 2025, autoridades republicanas do Texas alteraram o mapa de votação, transferindo cinco cadeiras da oposição democrata para o Partido Republicano e fortalecendo a maioria conservadora no Congresso.

A Proposição 50 surge, portanto, como a resposta da Califórnia — o estado mais populoso e mais alinhado ao Partido Democrata — para mitigar o impacto do redesenho texano e abrir uma nova frente na disputa nacional pela maioria legislativa.

Atualmente, a Câmara dos Representantes está dividida entre 219 republicanos e 213 democratas, o que torna cada cadeira crucial para o controle político em Washington.

Se a medida for aprovada, a Califórnia poderá entregar cinco novas cadeiras aos democratas nas legislativas de 2026, alterando temporariamente a correlação de forças no Congresso.

Analistas qualificam o conjunto de votações como um ensaio para as eleições legislativas de 2026, quando toda a Câmara será renovada.

Com 57% de desaprovação, Trump mantém o país polarizado e enfrenta resistência crescente nas grandes metrópoles, enquanto o Partido Democrata ainda busca consolidar uma alternativa nacional convincente.

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