Nesta última terça-feira (9), as Forças Armadas de Israel efetuaram um ataque aéreo em Doha, capital do Catar, direcionado a dirigentes do Hamas, ação inédita que eleva o conflito no Oriente Médio a outro patamar.
Explosões foram ouvidas em bairros residenciais. Conforme relatos, parte da delegação palestina envolvida nas negociações sobre a proposta de cessar-fogo apresentada pelos Estados Unidos estava reunida na cidade quando os ataques ocorreram.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Majed Al Ansari, classificou o ataque como “criminoso” e afirmou que se trata de “uma violação flagrante de todas as leis e normas internacionais e uma grave ameaça à segurança de cidadãos e residentes do Catar”.
Em nota, o governo declarou que não tolerará “esse comportamento imprudente de Israel e sua contínua manipulação da segurança regional”, e acrescentou que investigações em alto nível estão em andamento.
A ofensiva tende a comprometer diretamente os esforços diplomáticos para pôr fim à guerra em Gaza, conflito que já se estende por quase dois anos.
Fontes próximas ao Hamas relataram à rede Al Jazeera que a delegação se reunia para avaliar a proposta americana mais recente quando foi atingida. A emissora saudita Al-Arabiya informou que dados iniciais apontam para a possível morte de Khalil al-Hayya, chefe da equipe de negociações do grupo.
There are early reports of explosions in Doha, Qatar
Very close to Hamas’ headquarters there
— Shaun Maguire (@shaunmmaguire) September 9, 2025
Posicionamento militar
As Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram a operação, descrevendo-a como um “ataque direcionado” contra a alta cúpula do Hamas.
No comunicado, o comando militar afirmou que os líderes visados “comandaram por anos as atividades da organização terrorista e são diretamente responsáveis pelo massacre de 7 de outubro e pela guerra contra o Estado de Israel”.
Autoridades israelenses disseram ainda que foram adotadas medidas para reduzir o impacto sobre civis, com uso de armamento de precisão, embora não tenham divulgado números de mortos ou feridos.
Reação do Catar e contexto regional
O Catar, que abriga a maior base militar americana na região e tem atuado como mediador entre Hamas e Israel, reagiu com firmeza.
Em maio, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, havia dito que ele seria assassinado.
O ataque ocorre menos de duas semanas depois de o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, tenente-general Eyal Zamir, ter prometido atingir os líderes do Hamas “onde quer que estejam”.
Especialistas regionais afirmam que a ação em Doha remete ao assassinato do dirigente político Ismail Haniyeh em Teerã e simboliza a ampliação de uma estratégia que ultrapassa fronteiras nacionais.
Correspondentes da Al Jazeera destacaram que Israel se sente “encorajado” ao conseguir avançar sua ofensiva em Gaza, acusada de genocídio por diversos países e organismos, sem sofrer sanções internacionais proporcionais.
Além de Gaza, Israel realiza ataques frequentes no Líbano, no Iêmen, na Síria e na Cisjordânia ocupada, ampliando o risco de regionalização do conflito.
Ao atingir Doha, visto até então como um espaço seguro e central nas negociações de cessar-fogo, Tel Aviv quebrou um tabu diplomático e expôs a fragilidade de um dos poucos canais de diálogo ainda existentes entre as partes em guerra.
