Quantas vezes foi dito sim nos últimos dias quando na verdade se queria dizer não? Algumas pessoas enfrentam dificuldades em recusar demandas devido a características de personalidade, o que pode estar relacionado a:
- Cultura e criação: aprendizado de agradar os outros e evitar conflitos;
- Medo de rejeição: preocupação em desapontar ou perder oportunidades, criando ideias equivocadas sobre exclusão;
- Acreditar que ser prestativo é sempre uma virtude;
- Perfeccionismo: a ideia de que apenas elas podem realizar certas tarefas com excelência.
Para essas pessoas, o impacto de sempre dizer sim pode gerar sobrecarga e consequências emocionais, como estresse, ansiedade e ressentimento. Além disso, podem ocorrer problemas físicos, como cansaço crônico e adoecimento por excesso de trabalho, desgastes nos relacionamentos e queda na produtividade profissional.
A ameaça do burnout
Essa sobrecarga física e emocional pode levar a um diagnóstico cada vez mais comum: a síndrome de burnout. Essa condição se caracteriza por exaustão física, mental e emocional, resultando em afastamento das pessoas, que passam a ser vistas como fontes de estresse, prejudicando a empatia e os relacionamentos.
Outra manifestação do burnout é a sensação de falta de realização profissional, quando o trabalhador acredita que seu esforço não faz diferença ou não consegue lidar eficientemente com os desafios diários.
Para que essa síndrome seja caracterizada, a fonte de estresse deve estar relacionada ao trabalho. O Código Internacional de Doenças (CID-11) define o burnout como um “fenômeno ocupacional”.
Assim, a síndrome, descrita como resultado do estresse crônico no ambiente de trabalho mal administrado, evidencia dois fatores essenciais: características individuais e condições organizacionais, incluindo fatores de risco psicossociais.
Fatores de risco
Esses fatores podem incluir:
- Sobrecarga de trabalho;
- Ritmo intenso: múltiplas tarefas sem tempo suficiente;
- Falta de controle sobre as próprias funções;
- Recompensas insuficientes;
- Ausência de apoio social;
- Desequilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Para as empresas, esse diagnóstico traz implicações na legislação trabalhista, invertendo o ônus da prova: cabe ao empregador demonstrar que o adoecimento não decorre do ambiente profissional.
Em caso de afastamento, o benefício pode ser convertido para acidente de trabalho, garantindo direitos como estabilidade por um ano.
O que fazer?
A intervenção para um colaborador com burnout deve ocorrer em duas frentes:
- Tratar o indivíduo: afastamento, medicação, psicoterapia e exercícios;
- Melhorar o ambiente: reduzir fatores de estresse e promover proteção, como autonomia e apoio social.
Para o indivíduo, autoconhecimento e autocuidado são fundamentais. Uma estratégia importante é aprender a recusar demandas excessivas, o que depende de um ambiente que ofereça segurança psicológica e acordos claros.
Quando o trabalhador tem clareza de suas prioridades, a negociação com a empresa se torna mais fácil, permitindo mais tempo e energia para o que realmente importa.
Como dizer mais não?
Em situações onde características pessoais dificultam a negativa, é preciso praticar o “não” em situações cotidianas. Exemplos de estratégias incluem:
- Pausar antes de responder;
- Ser claro e objetivo;
- Oferecer alternativas;
- Usar o “não” positivo;
- Treinar em situações menores.
Cuidar do ambiente, reforçando fatores de proteção, ajuda a prevenir recaídas. Se o ambiente não for modificado, o retorno ao trabalho pode expor o colaborador aos mesmos fatores adoecedores.








