terça-feira, 29 de outubro de 2024

Uniformes do Time Brasil para Paris 2024; saiba tudo sobre a grande polêmica

Os uniformes do Time Brasil para as Olimpíadas de Paris 2024 receberam uma avalanche de críticas de internautas brasileiros. As vestimentas nacionais para as cerimônias de abertura e encerramento da competição foram feitas por uma rede de fast fashion, e não por um estilista, como em outros países. O Brasil possui renomados designers de moda, mas a escolha recaiu sobre a Riachuelo.

Os críticos brasileiros consideram os trajes destinados para a abertura pouco sofisticados e simples demais quando comparados aos de outras delegações, como Mongólia, Estados Unidos, França e Itália, que são assinados por grandes designers.

A delegação brasileira, sob a liderança do Comitê Olímpico do Brasil (COB), contará com três tipos de trajes feitos por quatro diferentes fornecedores de roupas e calçados: Riachuelo, Havaianas, Peak e Mormaii. Apesar dos elogios aos bordados artesanais das peças, a escolha da Riachuelo, uma rede de moda rápida cujo dono, Flávio Rocha, é um bolsonarista declarado, levantou questionamentos sobre a representatividade e a identidade cultural dos uniformes no cenário internacional.

Os uniformes foram desenvolvidos em Natal e na região semiárida do Rio Grande do Norte. Os bordados foram feitos por artesãs das Bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, que empregam resíduos da indústria têxtil. Os trajes também celebram a fauna e flora brasileiras, com detalhes como figuras de araras, tucanos e onças-pintadas bordadas.

Durante a cerimônia que será realizada na sexta-feira (26), as mulheres usarão uma camisa listrada amarela, saia branca e jaqueta jeans. Os homens estarão com calça branca, camisa listrada verde e jaqueta jeans bordada. A Riachuelo também será responsável pelas roupas de viagem, ou seja, todos os integrantes do Time Brasil entrarão em seus respectivos aviões rumo a Paris com as roupas desenhadas pela empresa brasileira.

Traje de premiação

A empresa chinesa Peak é a fornecedora oficial de material esportivo do COB para os Jogos Olímpicos. Isso significa que na Vila Olímpica, nos locais de competição e no pódio, os atletas e oficiais estarão vestindo as peças divulgadas no dia 7 de julho. Serão mais de 50 mil peças da Peak em estoque para serem distribuídas nos Jogos Olímpicos. A previsão é de que sejam montadas e distribuídas cerca de 600 malas só com produtos da empresa.

Os uniformes de premiação são inspirados em Paris e nas cores do Brasil: azul nos casacos e camisas, e amarelo nas calças e tênis. Esses mesmos uniformes serão utilizados na cerimônia de encerramento. Tradicionalmente, os competidores brasileiros vestem verde e amarelo, mas esta edição trouxe uma nova combinação de cores.

Durante os momentos fora das competições, os esportistas usarão casacos, calças e tênis predominantemente azuis, com detalhes em verde e branco, e camisetas amarelas, também da Peak. Adicionalmente, os uniformes de viagem incluem jaquetas, camisetas nas cores amarela e azul, e moletons nas opções adulto e infantil.

Outros trajes

A Mormaii será responsável por fornecer os uniformes dos demais envolvidos na Missão Paris 2024. A empresa, anunciada em dezembro de 2022 como a Patrocinadora Oficial dos Esportes de Praia do Time Brasil até 2024 e que forneceu material esportivo para os Jogos Sul-americanos de Praia Santa Marta 2023, terá 130 malas com peças distribuídas em Paris.

COB e Riachuelo compartilham polêmicas

De acordo com explicação do COB, a escolha da Riachuelo para produzir um dos uniformes do Time Brasil foi feita em razão do alinhamento da marca aos seus “valores e objetivos”. A entidade olímpica justifica que a parceria destaca-se pela capacidade da empresa presidida por Flávio Rocha de produzir peças que “representam a identidade e a biodiversidade brasileiras, além de integrar práticas sustentáveis e responsabilidade social”.

Tanto o COB quanto a Riachuelo de fato compartilham muitos valores similares. Em 2017, a empresa foi acusada de utilizar mão de obra análoga à escravidão em oficinas de costura terceirizadas. Essas alegações levaram a investigações e críticas severas sobre as práticas trabalhistas da empresa.

A Riachuelo também enfrentou críticas por suas práticas ambientais, sendo acusada de não seguir padrões sustentáveis na produção de suas roupas. Em 2015, foi alvo de uma greve de trabalhadores que protestavam por melhores condições de trabalho e salários justos. Rocha, dono da Riachuelo, teve uma relação próxima com o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. Ele foi um dos empresários que apoiou a candidatura do ex-presidente em 2018 e elogiou publicamente várias políticas do governo, especialmente aquelas relacionadas à economia e reformas trabalhistas.

Já o COB enfrentou várias polêmicas nos últimos anos, incluindo denúncias de desvio de recursos. Em 2017, quando o então presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, foi preso por suspeita de envolvimento em um esquema de compra de votos para garantir a escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Houve ainda críticas sobre a transparência e a gestão dos recursos públicos destinados ao esporte olímpico no Brasil. Diversos dirigentes do COB foram acusados de má conduta e falta de ética, impactando a imagem da organização.

Logística

A logística para vestir cerca de 700 pessoas, entre atletas, oficiais e staff, é um processo complexo e meticuloso. Segundo Joyce Ardies, gerente de Operações Internacionais e subchefe da Missão Paris 2024, em entrevista ao site oficial do COB, o processo começa com a estimativa das delegações e a proporção de gênero. A seguir, são avaliadas as necessidades baseadas no clima e temperatura das cidades-sedes, além dos itens prioritários para a delegação.

O COB define a quantidade e os tipos de peças necessárias e elabora uma planilha detalhada de pedidos para cada fornecedor. Este planejamento assegura que todos os membros da delegação estejam adequadamente equipados para enfrentar os desafios dos Jogos Olímpicos. Os uniformes incluem camisas, shorts, agasalhos, calças, calçados e acessórios, todos distribuídos para atender às necessidades específicas dos atletas e oficiais em função do clima e das atividades previstas em Paris.

Peças à venda

As versões comerciais dos uniformes do Time Brasil estão à venda nos sites das empresas parceiras, com preços que variam de R$ 54,99 a R$ 599,90 por peça. A camiseta feminina pode ser comprada por R$ 79,90 e a jaqueta bordada sai por R$ 599,90. A Riachuelo destacou que esses uniformes exploram a fauna, flora e biodiversidade brasileira, com a jaqueta jeans bordada como destaque, representando as raízes e a tradição artesanal nordestina.

Uniformes de outros países

Os trajes olímpicos que ganharam a preferência do público têm algo em comum: foram feitos por designers de moda e não por redes de fast fashion, como o caso brasileiro.

Mongólia

Os trajes para o país asiático ganharam a preferência do público nas redes sociais. Foram criados pela marca de moda Michel & Amazonka, baseada em Ulaanbaatar, e chamaram atenção quando foram revelados em julho. Esses uniformes, que serão usados por atletas e porta-bandeiras durante as cerimônias de abertura e encerramento, apresentam uma variedade impressionante de detalhes intrincados.

Inspirados nos tradicionais deels mongóis, os uniformes incluem colares, punhos e coletes bordados em vermelho escuro, azul-marinho e dourado, além de saias plissadas e capas drapeadas em branco diáfano. Cada uniforme também exibe uma variedade de símbolos significativos relacionados tanto às Olimpíadas de Paris quanto ao país da Mongólia.

Estados Unidos

A equipe dos EUA vestirá uniformes desenhados por Ralph Lauren, que incluem blazers clássicos para a cerimônia de abertura e jaquetas de moto para a cerimônia de encerramento. Os uniformes apresentam listras vermelhas, brancas e azuis, além do logotipo da equipe olímpica dos EUA e o logotipo da grife. Os trajes são predominantemente brancos para a cerimônia de encerramento, com detalhes em azul-marinho e vermelho.

Ralph Lauren é responsável pelos uniformes do Time EUA desde 2008. Este ano, traz um visual que homenageia a alfaiataria clássica estadunidense. Para a cerimônia de abertura, os atletas usarão blazer tradicional sobre uma camisa listrada e gravata, combinados com calças jeans claras. Os uniformes da cerimônia de encerramento têm um estilo mais casual, com jaquetas de moto adornadas com patches e jeans brancos.

França

A equipe anfitriã vestirá uniformes criados pela Berluti, que combinam elegância e desempenho. Os uniformes incluem elementos modernos e tradicionais, destacando-se pelo estilo sofisticado que reflete a moda francesa.

A Berluti incorporou tecidos de alta tecnologia em seus designs para garantir conforto e desempenho aos atletas. As peças incluem blazers ajustados, camisas de colarinho alto e calças slim fit, todos em tons clássicos de azul, branco e vermelho, que representam as cores da bandeira francesa.

Itália

Os uniformes italianos foram projetados por Giorgio Armani e apresentam um design elegante e sofisticado, com o logotipo da equipe italiana em destaque. As cores predominantes são preto, branco e azul, com detalhes em verde e vermelho para representar a bandeira italiana.

O estilo Armani é evidente na alfaiataria impecável e nos tecidos de alta qualidade. Os atletas usarão blazers ajustados, camisas brancas de colarinho e calças slim fit, todos feitos com tecidos leves e respiráveis. Os uniformes também incluem detalhes inovadores, como painéis de ventilação e materiais que absorvem a umidade, garantindo conforto durante as cerimônias.

Redação
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Equipe de jornalismo

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