A pimenta-do-reino cultivada no nordeste do Pará, especialmente no município de Tomé-Açu, passa por um momento delicado. Mesmo sem enviar diretamente o produto para os Estados Unidos, os produtores locais foram duramente atingidos por uma consequência inesperada: o aumento de 50% nas tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros provocou uma queda abrupta no valor pago pela especiaria em todo o mercado nacional.
De acordo com a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), o reflexo foi imediato. A diferença de preço entre a pimenta paraense e a vietnamita saltou para cerca de mil dólares por tonelada, gerando uma forte pressão no escoamento da produção. O aumento das tarifas não afeta diretamente a exportação, mas provoca um efeito cascata na formação de preços internos, segundo a direção da cooperativa.
Colheita em curso e mercado retraído
Com a safra atual em pleno andamento, o desafio dos produtores locais está em administrar a queda no valor de mercado. Até recentemente, a pimenta-do-reino paraense era comercializada por valores próximos a US$ 6.500 por tonelada. Agora, essa média caiu para US$ 5.500 — um baque significativo para quem depende da produção como principal fonte de renda.
Nesse cenário, muitos produtores optam por armazenar a colheita nos galpões da cooperativa, aguardando uma recuperação no preço antes de fechar negócios. Como a pimenta pode ser mantida em condições ideais de armazenamento por até dois anos, o estocamento se tornou uma alternativa estratégica para minimizar prejuízos imediatos.
Novas rotas de exportação ganham força
A Camta, que reúne cerca de 160 produtores cooperados, exporta atualmente entre 300 e 400 toneladas de pimenta-do-reino por ano. A maior parte segue para a Argentina, país que mantém demanda constante do condimento para a produção de embutidos. Japão, Europa e México também aparecem entre os principais compradores.
Entretanto, diante do atual cenário de desvalorização, a cooperativa começou a intensificar os esforços diplomáticos e comerciais para ampliar sua presença em mercados ainda inexplorados. China e Índia surgem como apostas promissoras, com alto potencial de consumo e uma cultura gastronômica que valoriza condimentos marcantes como a pimenta-preta. A diversificação de mercados é considerada essencial para garantir preços mais vantajosos e estabilidade nas vendas.
Cooperativa aposta na diversidade da produção
Apesar da turbulência no mercado da pimenta, a Camta segue como uma das cooperativas mais representativas da região Norte, com faturamento expressivo. Somente em 2024, a entidade movimentou R$ 124 milhões com a comercialização de produtos como açaí, dendê, óleos vegetais e polpas de frutas típicas da região amazônica.






