A cautela é fundamental para o Banco Central brasileiro em um contexto de incertezas na economia global, segundo Caio Megale, economista-chefe da XP. Durante um painel em Washington, realizado à margem da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), Megale compartilhou suas percepções sobre a atual política econômica.
Cenário de incertezas
O economista destacou que a mensagem principal do diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, refletiu as preocupações de outros formuladores de política econômica presentes no evento. A preocupação gira em torno da volatilidade causada pelas tarifas comerciais propostas por Donald Trump e seu impacto potencial na economia global. Este cenário de incerteza é um fator importante na formulação das políticas econômicas.
Política monetária em foco
A prudência do Banco Central também se estende à forma como irá responder aos desdobramentos da guerra comercial. Megale acredita que isso não significa o fim do ciclo de alta de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A inflação continua elevada e distante da meta, enquanto a economia ainda apresenta robustez. O especialista aponta que, apesar da necessidade de novas altas da taxa Selic, essas devem ocorrer de maneira gradual e com cautela. O cenário da XP sugere que a taxa básica possa chegar a 15,5% até o final de 2025, com projeções de 12,5% para 2026.
Desaceleração econômica
Megale também observou sinais de desaceleração na economia brasileira, embora a intensidade dessa desaceleração permaneça incerta. Durante o evento, Guillen também ressaltou que há indicações iniciais de moderação no crescimento econômico, mas sem evidências concretas de uma desaceleração generalizada.
Impacto global na inflação
Neste contexto de incerteza, Megale ressaltou a importância de monitorar como as tarifas comerciais podem influenciar a inflação no Brasil. Tarifas elevadas podem desacelerar a economia global e, por consequência, afetar negativamente o Brasil. A taxa de câmbio tem apresentado grande volatilidade, uma situação que tensiona ainda mais a avaliação do cenário inflacionário.
Empréstimos consignados e crescimento do PIB
Outro aspecto considerado por Megale é o impacto dos novos empréstimos consignados aos trabalhadores do setor privado sobre o PIB. A XP estimou que esses empréstimos poderiam adicionar cerca de 0,6 ponto percentual ao crescimento anualizado do PIB. Contudo, Guillen indicou que o Banco Central ainda não contabiliza esses empréstimos em suas projeções devido à incerteza em relação ao seu impacto e ao momento de implementação.
A necessidade de cautela
Em um panorama global repleto de incertezas, Megale enfatiza a importância de uma abordagem cautelosa na política econômica. O Banco Central deve continuar a observar o impacto das tarifas sobre a economia e ajustar suas políticas conforme necessário, sempre atento às condições do mercado.