O dólar à vista avançou 0,40% em relação ao real nesta segunda (9), a R$ 5,2575, na contramão do exterior, onde a moeda americana perdeu força ao longo de toda a sessão. Para operadores, o enfraquecimento da divisa brasileira em meio ao cenário externo positivo reflete o aumento da incerteza política no País após os atos golpistas promovidos ontem em Brasília por grupos radicais que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Mesmo assim, o dólar moderou o ritmo de alta ao longo do dia, à medida que as respostas anunciadas pelos Três Poderes aos atos reduziam a percepção de risco político. A moeda americana fechou o dia mais de 5 centavos abaixo da máxima (R$ 5,3090) e marcou a mínima de R$ 5,2475 (+0,20%) às 15h21, enquanto o ministro da Justiça, Flávio Dino, detalhava a detenção de até 1.500 suspeitos de participação no movimento golpista.
“Hoje, o dólar está muito fraco lá fora, com todos os emergentes apreciando. Então, o real sofreu por causa desses atos”, afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig. “O mercado abriu com uma perspectiva bem ruim com relação ao que aconteceu ontem em Brasília, mas, no fundo, a situação foi contornada rapidamente, com investigação e prisão das pessoas. Para o investidor de médio e longo prazo, não muda a perspectiva.”
As tensões políticas domésticas levaram o real a ter o pior desempenho em relação a um conjunto de moedas emergentes e de exportadores de commodities, em um dia no qual as notícias sobre a reabertura da China impulsionaram os contratos futuros do petróleo WTI para fevereiro (+1,17%) e do Brent para março (+1,37%). O dólar cedeu mais de 1% em relação ao rand sul-africano e ficou praticamente estável (0,0%) frente ao peso do México.
Também pesou negativamente sobre o desempenho da moeda americana nos mercados globais a continuidade da percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) pode adotar um ritmo mais moderado de aumento de juros. Em meio a esse cenário, o índice DXY, que mede a força da divisa americana em relação a seis moedas fortes, cedeu até 0,80% durante o pregão.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, afirma que os atos golpistas de ontem tiveram impacto limitado para os ativos brasileiros, impulsionados em parte pelo avanço das Bolsas internacionais e pelo enfraquecimento global do dólar hoje . “Certamente, o ambiente externo favorável aos mercados emergentes ajudou”, comenta.
Os atos golpistas também não foram suficientes para mudar as expectativas de instituições estrangeiras, que veem impacto limitado do movimento sobre o País. Hoje, o Wells Fargo reiterou a projeção de dólar em torno de R$ 5,30 no fim do primeiro trimestre e em R$ 5,0 até dezembro de 2023, sem um efeito significativo das ações de grupos radicais sobre o processo democrático brasileiro.