Apesar da queda nas vendas no mercado interno, as exportações garantiram uma alta de 5,4% na produção de veículos no Brasil. O dado foi divulgado nesta sexta (6) pela Anfavea (associação das montadoras), que também revelou suas projeções para 2023.
Foram montadas 2,368 milhões de unidades em 2022. O número inclui carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões.
Os cálculos da associação apontam que 2,421 milhões de carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões deverão sair das linhas de montagem neste ano. Trata-se de uma elevação de 2,2% na comparação com 2022.
A entidade espera ainda que 2,168 milhões de unidades sejam emplacadas ao longo do ano, o que significaria um crescimento de 3% em relação a 2022. Fatores como melhora no fornecimento de peças e demanda reprimida contribuem para o otimismo, embora contido.
É uma previsão bem diferente da feita pela Fenabrave. A representante dos revendedores acredita que as vendas terão alta de apenas 0,1% neste ano, impactadas pela desaceleração global da economia e pelas restrições no acesso ao crédito.
Enquanto as vendas de veículos leves e pesados registraram queda de 0,7% na comparação entre 2021 e 2022, as exportações cresceram 27,8% no mesmo período. Foram enviados 480,9 mil veículos ao exterior.
A Argentina, que representou 35% das exportações do Brasil em 2021, viu essa faria cair para 29% no ano passado.
“Quando se pensa em Argentina e Brasil, pensamos em um mercado só. Esse desbalanceamento é uma questão importante”, disse Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.
Os estoques permanecem estáveis. Há 187,9 mil veículos disponíveis nas concessionárias e nos pátios das fábricas, volume suficiente para atender a 26 dias de vendas.
O nível de emprego se manteve estável entre 2021 e 2022. Dezembro do ano passado terminou com 102,4 mil funcionários nas montadoras, uma alta de 1,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Ocorreram, contudo, grandes movimentações ao longo desses anos, com impactos dos fechamentos de fábricas da Ford, da Mercedes e da Toyota.
Houve realocações e ainda há acordos trabalhistas em andamento, e outros resultados dessas mudanças devem aparecer ao longo de 2023.
O ano será positivamente impactado pelo início dos trabalhos na fábrica da chinesa
GWM em Iracemápolis (interior de São Paulo) e pelo provável acordo entre Ford, BYD e governo da Bahia. Há planos avançados para aquisição do complexo de Camaçari.
Com a chegada do novo governo —e com a recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, pasta assumida pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB)—,a Anfavea apresentou sua agenda prioritária para 2023.
A Anfavea está animada com o retorno do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. “A primeira fala do ministro Alckmin foi fantástica, falou sobre semicondutores e reindustrialização, mas resta saber se teremos velocidade na implementação da reforma tributária”, disse Lima Leite.
Ele avalia que o vice-presidente foi “o melhor nome para o cargo”.
O presidente da entidade afirmou ainda que o mais importante é ter diálogo com o governo. Representantes da associação já participaram de um jantar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Para José Maurício Andreta Júnior, presidente da Fenabrave, o retorno do ministério só poderá ser avaliado após o início dos trabalhos. “Acho que essa mudança precisa ser sentida ainda. Vamos esperar os primeiros passos e aguardar qual será a equipe, mas vejo com bons olhos [a volta do ministério].”
Segundo Márcio de Lima Leite, a redução dos custos de produção e de comercialização são fundamentais para o crescimento do setor.
“Não da para imaginar um mercado em que mais de 70% das vendas são feitas à vista. Há três anos, era o contrário”, disse o executivo.
Outro ponto mencionado é a celebração de novos acordos bilaterais, para tornar o Brasil mais atraente para receber novas fábricas de veículos e de componentes, além de ampliar o potencial de exportação.
“Temos que ter a consciência de que quando apresentamos nossos planos, eles precisam ser competitivos”, afirmou Leite.
A redução dos custos tributários e o estímulo à pesquisa também estão na pauta da associação.
Além de divulgar os números expectativas para o setor, a Anfavea apresentou sua nova logomarca.
O desenho anterior, que destacava a silhueta de um calhambeque, foi substituído por um desenho que, segundo a associação, remete à tecnologia e mobilidade. O contorno do carrinho antigo, contudo, continua presente.