sábado, 2 de novembro de 2024

População de baleias jubarte volta a crescer no Brasil

Havia aproximadamente dois séculos que o litoral brasileiro não via tanta baleia jubarte. Estudo divulgado pelo Instituto Baleia Jubarte estima que a espécie está se recuperando e que cerca de 25 mil delas passaram pelo país no segundo semestre de 2022. O número é próximo dos cerca de 27 mil a 30 mil exemplares contabilizados 200 anos atrás.

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As vantagens da recuperação dessa população de baleias vão além do afastamento completo do risco de extinção, com o fim da caça. Esses mamíferos contribuem para o combate às mudanças climáticas.

O motivo do crescimento, para especialistas, é basicamente reflexo do fim da caça, proibida em 1966, período em que a população foi reduzida a menos de 5%, algo entre 600 e 800 indivíduos.

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“Já não era mais viável economicamente os navios saírem para caçar as jubartes, porque a chance de encontrar era muito pequena”, diz o médico veterinário Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte.

A matança ainda existiu por mais alguns anos, mesmo que vetada, até que deixou de ocorrer de fato no final dos anos 1970.

O fim da caça, associada a medidas como a redução do atropelamento por embarcações e do emalhe acidental em equipamentos de pesca, criou condições para o aumento do número das baleias desta espécie.

O crescimento da população de jubartes no Brasil está perto da estabilidade, segundo o pesquisador. O desafio agora, diz, é encontrar uma forma de convivência entre baleias e atividades humanas, como as do setor petrolífero, para que não perturbem esses animais.

Um dos focos é a adequação do calendário de operações de busca de petróleo nocivas às baleias. “A gente fez uma recomendação que foi acatada pelo Conama de restringir na Bahia, no Espírito Santo e em Sergipe de julho a novembro, quando as jubartes estão lá, até 500 metros de profundidade”, conta.

As jubartes passam pelo Brasil entre o inverno e a primavera para acasalarem. Chegam, portanto, em junho e permanecem até outubro e novembro, quando tomam o caminho de volta para as águas subantárticas, no sul do planeta.

No período em que estão por aqui, são contadas a cada três anos pelo instituto por meio de avistamento aéreo. Os profissionais sobrevoam uma área que vai da divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará até o litoral norte de São Paulo, avançando mar adentro até onde a profundidade bate nos 500 metros. Por meio de cálculos sofisticados, estimam o total, incluindo as submersas, usando como base as que conseguem ver.

As primeiras estimativas são do fim da década de 1980, segundo Enrico Marcovaldi, um dos fundadores do instituto. Na época, sem as mesmas condições de pesquisas atuais, calcularam cerca de 500 jubartes na região.

Em 2003, já via avistamento aéreo, foram estimados 3.660 indivíduos, e, em 2019, o número já batia em 16 mil. Foi com base nos resultados desse monitoramento que, em 2014, a baleia jubarte saiu da lista de espécies em extinção.

Retenção de CO₂ e adubo

Como as baleias são animais que crescem muito, elas retêm bastante CO₂, um dos maiores vilões do aquecimento global e, por consequência, das mudanças climáticas.

“As baleias têm uma importância fundamental para o planeta da mesma forma que as florestas são importantes, porque retêm muito gás carbônico e ajudam a controlar o clima”, afirma Marcondes.

De acordo com um estudo desenvolvido por economistas do FMI (Fundo Monetário Internacional) e das universidades de Duke e Notre Dame, uma baleia por reter até cerca de 33 toneladas de gás carbônico durante a vida e, quando morre, afunda nos oceanos levando consigo todo esse CO₂.

Uma árvore estoca aproximadamente 22 quilos por ano. “Uma população saudável e grande de baleias retém muito CO₂”, diz Marcondes, acrescentando que uma jubarte chega a 35 toneladas e pode viver cerca de 60 anos.

Outra forma com que as jubartes ajudam no ecossistema é fertilizando as dezenas de milhares de quilômetros de oceano pelos quais elas transitam.

As fezes, explica o pesquisador, são ricas em ferro e nitrogênio, além da urina, também rica em nitrogênio. “Isso faz com que o plâncton, as algas, se proliferem. E as algas liberam oxigênio na atmosfera e retiram CO₂.”

O ciclo inteiro é favorecido, já que o krill, crustáceo que é o alimento principal das baleias, come estas algas. Dessa forma, a baleia ajuda na proliferação do alimento de seu alimento.

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