A edição de 2025 da Brasil Game Show (BGS) deixou uma impressão pouco favorável. O evento foi acompanhado em todos os dias de sua realização, em mais uma edição daquele que por anos foi referência da cultura gamer no país.
Ao percorrer os corredores do novo espaço no Distrito Anhembi, tornou-se evidente que algo se perdeu durante a transição.
A feira permanece ativa, atrai público e conserva certo apelo, mas é inegável que a BGS vem perdendo, ao longo dos anos, relevância como vitrine de novidades e como evento de peso na indústria de jogos eletrônicos.
A mudança do Expo Center Norte para o Anhembi parecia vantajosa no papel: um local mais moderno, melhor iluminação e promessa de infraestrutura superior. Na prática, a ocupação ficou restrita a dois dos três pavilhões, sendo um deles utilizado apenas como área coberta de espera.
Como consequência, apesar de a circulação ter sido organizada e fluida, a edição deu a sensação de ser menor e mais modesta do que antes; a grandiosidade típica das edições pré-pandemia cedeu lugar a uma BGS mais contida.
Presenças e estandes de grandes marcas
No coração do evento, a Nintendo assumiu, de forma isolada, o papel de destaque: seu estande foi o mais disputado e bem estruturado, com 14 títulos disponíveis, entre eles Donkey Kong Bananza, Hades 2, EA FC 26 e Hollow Knight: Silksong, além de versões de Zelda: Tears of the Kingdom e Super Mario Party Jamboree rodando no Switch 2.
A “Big N” foi a única fabricante de consoles com presença efetiva. O PlayStation limitou-se a uma instalação promocional de Ghost of Yotei, principal exclusivo do segundo semestre, e ao concerto PlayStation: The Concert; o Xbox não montou estande próprio.
A SEGA apareceu de forma discreta, com Sonic Racing Crossworlds e algumas ativações para fotos. A Arc System Works marcou presença com Guilty Gear Strive traduzido e com o inédito Double Dragon Revive, um dos poucos títulos ainda não lançados disponíveis ao público.
Companhias como Capcom, Konami e Square Enix compareceram, porém sem grandes anúncios; espaços antes ocupados por demonstrações aguardadas foram preenchidos por títulos como Resident Evil Survivor Unit e eFootball.
Indies, ausências e organização
Houve pontos positivos: a Área Indie ganhou força, destacando jogos brasileiros promissores como Hellclock, A.I.L.A. e Tupi: The Legend of Arariboia, e estandes como os da Devolver e da Supercell se mostraram criativos e bem-humorados. Ainda assim, ao caminhar pelo evento, a sensação persistente foi de um vazio — não apenas físico, mas simbólico.
Marcas que já foram pilares da BGS, como Bandai Namco, Ubisoft, Twitch e YouTube, estiveram ausentes. O evento, que antes refletia o mercado global, passou a parecer um mosaico desigual de patrocinadores, influenciadores e ativações genéricas.
Falhas na organização reforçaram a percepção negativa sobre o estado atual da Brasil Game Show.
O episódio tumultuado do meet & greet com Hideo Kojima, marcado por filas desordenadas, alegações de pulseiras falsificadas e falta de informação, sintetizou o descompasso entre ambição e execução. Também ocorreram problemas no acesso da imprensa e em coletivas mal conduzidas, o que prejudicou a cobertura profissional do evento.
Ao término da BGS 2025, avalia-se que o encontro ainda tem valor como ponto de encontro, celebração coletiva e memória afetiva, mas sua importância como feira de games, palco de lançamentos e de tendências precisa ser reavaliada.
A BGS precisa definir se seguirá como uma convenção de cultura pop com foco em jogos ou se buscará recuperar o papel de referência que teve no calendário global; sem essa escolha, corre o risco de se tornar apenas uma lembrança nostálgica.







