Por que eu escolhi ser atriz?

Querido leitor, querida leitora,

Me convidaram para escrever aqui, o primeiro tema que me veio à cabeça foi o mais fundamental de todos, por que eu escolhi ser atriz? Não é uma pergunta simples, mas a resposta mora no meu peito, pulsando forte, e eu queria dividir ela com vocês.

A gente sempre acha que a vida decide as coisas por nós, mas hoje eu vejo que a gente já nasce com um chamado. O meu veio disfarçado de brincadeira de criança. Minha diversão favorita era “brincar de novela”. Eu inventava histórias, personagens, e virava outra pessoa por algumas horas. Aquilo não era só uma diversão, era uma necessidade da minha alma. Mas foi só bem mais tarde que eu entendi o que aquilo significava.

Trabalhei por 15 anos como professora de matemática. Gostava de ensinar, mas minha alma pedia mais. Eu sempre me metia nas feiras de arte, nos shows de talentos dos alunos… mas dirigir de longe não bastava. Eu precisava estar dentro da história. O clique definitivo veio numa resistência artística que fiz pelo Sesc. Lá, pude experimentar teatro, dança, canto, e no final, subi ao palco profissionalmente pela primeira vez no musical Peleja; Uma Razão Mutilada, do diretor Glauber Teixeira.

Gente, não tem como explicar aquele mix de frio na barriga, nervosismo e uma felicidade absurda. Ver o público no final, o carinho, os elogios… foi como se uma peça que faltava em mim tivesse se encaixado. Naquele momento, eu soube. Minha alma era, e sempre foi, feita de arte. Percebi que nunca seria feliz fazendo outra coisa que não fosse atuar.

Decidi então me jogar de cabeça. Fiz o curso técnico de Artes Dramáticas e, quando me formei, larguei o emprego estável. Foi assustador! Minha família, é claro, achou que eu estava louca. Como trocar uma carreira sólida por um sonho tão incerto? Foi uma luta fazer eles entenderem que, se eu continuasse na sala de aula daquele jeito, eu iria adoecer. Aos poucos, com muito diálogo, eles foram vendo que a arte era o que me movia, o que me fazia acordar com brilho nos olhos. Hoje, eles são meus maiores fãs.

E não é que ainda tem gente que me pergunta qual é a minha “profissão de verdade”? Eu respondo com o coração cheio de orgulho, sou atriz. Ponto final. O que mais me incomoda é esse pensamento de que só é atriz de verdade quem está na novela da TV. A arte é muito maior que isso. Ela acontece nos palcos de teatro, em projetos independentes, na rua… onde uma história precisar ser contada.

Mas o que é, de fato, que me move?

É aquele momento mágico, pouco antes de entrar em cena. A adrenalina é surreal. Eu sinto como se estivesse me transportando para a vida da minha personagem. Quando o sinal sobe, já não sou mais só a Tha Pedrosa. Eu me entrego por completo. Nós nos fundimos, viramos uma só. E aí vem a melhor parte: ver a reação do público. Ver as pessoas se conectando, se emocionando, amando ou odiando a personagem. Isso me mostra que tudo fez sentido. É essa conexão que eu busco.

A atuação, para mim, é como uma melhor amiga. Ela me acolhe nos dias tristes, me acalma nos nervosos e vibra com cada conquista. Recentemente, passei por um luto muito doloroso, perdi minha esposa em fevereiro. E se eu não tivesse a minha arte comigo, teria sido infinitamente pior. Nos momentos mais difíceis, atuar me lembra que, mesmo com a dor, eu ainda estou aqui. Ainda tenho muito para viver e sentir, e minhas personagens me ajudam a atravessar tudo isso.

Cada personagem me marca, mas uma em especial mudou minha forma de ver o mundo: Maria de Nazaré. Ela era tão diferente de mim, mas me ensinou a cultivar o amor incondicional em um mundo tão desgovernado. Ela me mostrou que o amor é o sentimento mais transformador que existe, e eu carrego isso comigo.

E o preço? Nem tudo são flores!

A segurança financeira é a maior delas. A vida de artista é instável. E o tempo com a família também sofre, porque nossos horários são malucos. Mas o lado bom é que a gente cria nossas próprias agendas! Com diálogo e muito amor, a gente vai se ajustando. Quando a família entende que é no palco que você encontra sua felicidade, tudo fica mais leve.

Se eu pudesse voltar no tempo e dar um conselho para a Tha criança, eu diria: “Não espera. Faça Artes Dramáticas assim que sair da escola, porque nada, absolutamente nada do que for diferente disso, vai te fazer feliz.”

E o futuro? Ah, eu ainda tenho tanto para viver! Tantos personagens para conhecer e amar. Meu maior desejo é poder emocionar cada vez mais pessoas. Espero poder, através da minha arte, olhar nos olhos de alguém e transmitir a mensagem mais pura que a vida me ensinou: a vida é dura, mas é linda. E se eu puder, de alguma forma, curar e confortar corações através das histórias que conto, minha missão estará cumprida.

Ser atriz não é uma profissão. É um chamado. É respirar, é viver, é ser. E é por isso que eu estou aqui.

Com carinho,

Tha Pedrosa.