O café brasileiro, afetado pelo aumento de tarifas decretado pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump, foi o principal tema de uma conversa telefônica entre ele e o presidente Lula na segunda-feira (6). Trump teria dito ao líder brasileiro que os consumidores americanos estão com “saudade” de produtos importados, incluindo o café.
A discussão entre os dois chefes de Estado girou em torno do impacto econômico causado pela tarifa de 50% aplicada pela administração Trump a produtos brasileiros, com destaque para o café. A medida elevou os preços nos EUA e prejudicou as vendas externas do Brasil.
Desde que a tarifa entrou em vigor em setembro, os preços do café atingiram patamares históricos nos Estados Unidos, registrando índices de inflação sem precedentes.
Como um dos principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA, o café passou a simbolizar os efeitos da disputa comercial iniciada por Trump. Dados do governo americano indicam que o preço do produto subiu 3,6% em agosto, o maior aumento mensal em 14 anos, muito acima da inflação média de 0,4% no mesmo período.
Em um ano, a alta acumulada chegou a 20,9%, marca nunca vista desde 1997. Esse cenário resulta tanto de questões climáticas em países produtores como o Brasil quanto da nova tarifa de importação. Os preços devem continuar em alta enquanto as barreiras comerciais persistirem.
EUA: principal consumidor global de café
A situação é mais preocupante porque os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de café, com aproximadamente dois terços da população adulta ingerindo a bebida diariamente, cerca de três xícaras por pessoa, em média. Diariamente, os norte-americanos consomem cerca de 450 milhões de xícaras, e um terço desse total tem origem no Brasil.
No Brasil, os efeitos das tarifas foram sentidos em setembro. Segundo números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as exportações para os EUA caíram 20,3%, totalizando US$ 2,58 bilhões. O setor cafeeiro foi o mais afetado, com redução de 47% em volume e 31,5% em valor, atingindo US$ 113,8 milhões.
Em contrapartida, as compras brasileiras de produtos americanos subiram 14,3%, ampliando o déficit comercial para US$ 1,77 bilhão no mês. O superávit geral do Brasil também sofreu queda significativa: 41% abaixo do registrado no ano anterior, ficando em US$ 3 bilhões.
Negociações entre os países
Durante o telefonema, Lula pediu a Trump a suspensão da tarifa de 50% e a revogação de sanções impostas a autoridades brasileiras, como o ministro do STF Alexandre de Moraes, que teve o visto cancelado na gestão republicana.
De acordo com a Presidência brasileira, o contato foi realizado a pedido dos EUA e considerado “cordial” por ambas as partes. Trump teria elogiado o breve encontro que tiveram na Assembleia Geral da ONU em setembro, qualificando a conversa com Lula como “excelente”. Em sua rede social Truth Social, o ex-presidente escreveu: “Gostei do diálogo; nossos países terão uma ótima relação!”
O ex-mandatário designou o secretário de Estado Marco Rubio para prosseguir com as tratativas envolvendo o Brasil. Pela parte brasileira participam o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad.
A administração brasileira ressaltou que Lula enxerga esse reencontro como uma chance de reestabelecer os laços históricos entre as “duas maiores democracias ocidentais”, que se estendem por mais de dois séculos.
