Saber identificar quando uma imagem foi produzida por inteligência artificial é apenas uma das habilidades essenciais na era digital. Identificar fraudes que usam essa tecnologia e entender os riscos de modas envolvendo IA, como transformar selfies em animações no estilo Ghibli, são desafios igualmente relevantes.
Nesse contexto, uma especialista brasileira em alfabetização digital ganhou destaque nas redes sociais. Catharina Doria ficou conhecida por criar vídeos didáticos que mostram como se prevenir e entender os riscos da IA.
Em menos de doze meses, seu perfil no Instagram ultrapassou 300 mil seguidores, com alguns conteúdos atingindo mais de um milhão de visualizações.
Tudo começou com uma publicação desafiadora em que ela convidava o público a diferenciar vídeos reais de conteúdos gerados por IA, mostrando imagens de uma youtuber, uma cantora e um streamer de jogos, todas falsas.
O primeiro vídeo da série, que alcançou mais de 60 mil visualizações, tinha o objetivo de desenvolver o senso crítico do público. “É necessário treinar o cérebro para se proteger dessa tecnologia”, explicou Doria em entrevista.
Em um conteúdo mais recente, a especialista alertou sobre riscos à privacidade causados por robôs aspiradores, que podem coletar informações pessoais e até capturar imagens dos usuários.
Antes de se tornar influenciadora digital, Catharina já havia se destacado por criar, aos 16 anos, um aplicativo para denúncias de assédio sexual, inspirado por uma experiência pessoal.
Trajetória profissional
Sua mudança de carreira ocorreu durante a elaboração do trabalho de conclusão de curso em Comunicação, quando leu o livro “Algorithms of Oppression”, de Safiya Noble. A obra a fez perceber como os algoritmos podem ser enviesados.
Após se formar com honras, Doria fez mestrado em ciência de dados e, posteriormente, trabalhou com governança de IA em uma empresa americana, viajando pelo mundo para aprender sobre o tema.
Conteúdo educativo
Percebendo a falta de informações acessíveis sobre IA para o público geral, Catharina decidiu dedicar-se à criação de conteúdo educativo. Em poucos meses, conquistou quase 200 mil seguidores, demonstrando a demanda por esse tipo de orientação.
A especialista aborda desde questões técnicas até temas da cultura pop, como o polêmico vídeo atribuído a Taylor Swift e o uso indevido da imagem de Robin Williams após seu falecimento.
Atualmente, ela se dedica integralmente à produção de conteúdo sobre ética em IA e está escrevendo dois livros sobre o assunto.
Desafios globais
A falta de familiaridade com a tecnologia não se limita a grupos etários específicos. Segundo Doria, pessoas de todas as idades e nacionalidades demonstram dificuldade em entender a inteligência artificial e seus riscos.
A rápida adoção dessas ferramentas sem o devido esclarecimento é apontada como um dos principais problemas. Muitas empresas implementaram soluções de IA sem explicar adequadamente seu funcionamento ou os potenciais riscos aos usuários.
Transparência e regulamentação
A especialista defende maior transparência por parte das companhias de tecnologia e a criação de regulamentações específicas. Embora leis como o EU AI Act representem avanços, ela acredita que a autorregulação das empresas é insuficiente para garantir a proteção dos usuários.
Para Doria, a comunicação sobre a IA deve transformar medo em conhecimento, apresentando não apenas os problemas, mas também maneiras de se proteger. Essa abordagem equilibrada tem sido a marca de seu trabalho como educadora digital.
