12 de dezembro de 2025
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Robôs que lavam, passam e cozinham

Robôs com aparência humana deixaram de ser apenas ficção e devem começar a entrar nos lares americanos a partir de 2026.

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A nova safra desses autômatos realiza limpeza doméstica, passa roupas e até colabora no preparo de refeições.

Nesta semana, a empresa de inteligência artificial 1X apresentou o Neo, descrito como o primeiro robô “pronto para o consumidor”. Com formato que remete ao corpo humano, com pés, pernas, braços e cabeça, o aparelho mede 1,70 metro e pesa 30 quilos, executando tarefas rotineiras como guardar copos, abrir portas, dobrar roupas e regar plantas.

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Apesar de cumprirem atividades domésticas e estarem em pré-venda, esses supostos “mordomos” ou “faxineiros” do futuro ainda apresentam falhas: realizam tarefas com lentidão, têm passos e equilíbrio mais vagarosos do que um adulto e frequentemente exigem que ordens sejam repetidas. Os problemas não param por aí.

Pegadinha?

Embora o Neo seja anunciado como autônomo, ele é operado remotamente por alguém que usa óculos de realidade virtual.

Uma pessoa de carne e osso, situada em algum ponto dos Estados Unidos, controla os movimentos do robô; ou seja, um estranho poderá “entrar” virtualmente no lar para executar tarefas, pagando US$ 20 mil (aproximadamente R$ 106 mil), valor do equipamento.

Além disso, a praticidade aumenta conforme o proprietário fornece mais dados ao robô, gerando uma comodidade que se contrapõe a uma vigilância crescente, lembrando o cenário descrito por George Orwell em 1984, e suscitando a dúvida: hoje vale mais o tempo ganho ou a privacidade perdida?

Neo, o robô que ajuda nas tarefas de casa, deve chegar ao mercado em 2026 (Foto: Divulgação 1X)

Quem são e o que fazem os robôs

Robôs auxiliares já são empregados em fábricas e em tarefas domésticas simples, como o TidyBot, que recolhe roupas do chão, embora sua aparência não lembre a de um ser humano. Já os humanoides são projetados para se assemelhar a pessoas e reproduzir movimentos corporais humanos.

O Neo pode ser pioneiro nas vendas ao consumidor, mas não é o único projeto nesse formato: destacam-se também o Optimus, da Tesla, e o Figure 03, da Figure AI, startup apoiada pela Microsoft, por Jeff Bezos e pela Nvidia.

Enquanto o Neo opera por meio de um clique no aplicativo ou comando de voz com auxílio humano, o Optimus Gen 2 e o Figure 03 prometem maior autonomia, aprendendo ao observar alguém executar as tarefas por vídeo ou demonstração.

Esse processo de “ensino” abriu um novo mercado além dos EUA: na Índia, por exemplo, há uma empresa com cerca de mil funcionários dedicados a realizar atividades repetitivas para criar bases de dados usadas no treinamento dos robôs.

Outra distinção é que a Tesla busca desenvolver robôs com base em sua tecnologia interna para uso nas próprias fábricas. O Optimus já foi mostrado em redes sociais realizando ações como dançar, servir pipoca e dobrar camisetas.

O Figure 03 utiliza um software denominado Helix, que funciona como seu “cérebro”, e foi concebido para produção em larga escala, tanto para aplicações industriais quanto residenciais, com previsão de chegar às casas no ano seguinte.

Em 2024, Elon Musk declarou a intenção de começar a comercializar seus robôs humanoides ainda naquele ano, mas, com a aproximação de 2026, não houve anúncio formal. Conhecido por prometer metas ambiciosas nem sempre cumpridas nos prazos, o bilionário estimou preços entre US$ 20 mil e US$ 30 mil (cerca de R$ 106 mil a R$ 160 mil).

A Tesla Bot apresentou nesta semana o seu robô androide na Feira Internacional de Importação na China (Foto: EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI)

Robô japonês, europeu e chinês

A disputa para levar robôs às residências é intensa entre países e empresas.

O Japão marcou presença cedo no setor com o Asimo, da Honda, apresentado em 2000. O simpático robô viajou pelo mundo como vitrine tecnológica e foi descontinuado em 2018, mas a Honda segue desenvolvendo máquinas com aplicações práticas, como apoio em fisioterapia e atuação em ambientes perigosos, incluindo combate a incêndios.

Segundo a Federação Internacional de Robótica, empresas europeias já utilizam robôs colaborativos na indústria, mas tendem a ser mais cautelosas quanto ao uso de humanoides e às implicações éticas da robótica e da inteligência artificial.

Na semana passada, a chinesa Xpeng revelou a segunda geração do robô Iron e planeja iniciar produção em massa no ano seguinte, com foco inicial em aplicações industriais, embora a aparência realista do modelo tenha atraído atenção.

Conforme noticiou o South China Morning Post, o fundador da Xpeng, He Xiaopeng, abriu o zíper nas costas do humanoide para demonstrar que não havia ninguém dentro, depois que a fluidez dos movimentos provocou descrença online.

Corrida trilionária

He Xiaopeng afirmou não saber ao certo quantos robôs a Xpeng venderá nos anos seguintes, mas garantiu que o total “será maior que o número de carros”.

Elon Musk disse algo semelhante: cerca de 80% do valor da Tesla poderia vir de seus robôs humanoides Optimus. A BBC aponta que os androides, juntamente com táxis-robôs e caminhões autônomos, fazem parte da aposta para ampliar a atuação da empresa em inteligência artificial.

Os investidores aprovaram recentemente um pacote de remuneração de aproximadamente US$ 1 trilhão para Musk, valor notável não apenas pela quantia, mas também diante da queda nas vendas de veículos elétricos pela Tesla.

O acordo prevê que Musk entregue 20 milhões de veículos ao mercado em 10 anos, mais que o dobro do total desde a fundação da companhia, e implemente um milhão de robôs com aparência humana, apelidados por ele de “exército de robôs”, segundo a Associated Press.

Ainda conforme a BBC News, um relatório do banco Morgan Stanley indicou que a Apple, apontada por rumores como desenvolvedora de robôs semelhantes, poderia gerar até US$ 133 bilhões anuais com essa tecnologia até 2040.

Cores e texturas: os detalhes

Além das soluções técnicas, as empresas investem no design para reduzir a estranheza de ver uma máquina circulando pelo lar. Os androides variam em traços de acabamento, destreza manual e suavidade nos movimentos.

O Neo traz um revestimento em malha macia com tons neutros — cinza, nude e preto — e, segundo o CEO da 1X, Bernt Børnich, sem dados de uso não é possível aprimorar o produto: “Não é perfeito, mas é útil”, declarou ao Wall Street Journal.

Um teste realizado por um jornalista, que durou um dia, foi descrito como parecido com “ensinar uma criança pequena” a executar tarefas, em referência à lentidão e às dificuldades de locomoção do robô. Por exemplo, Neo levou dois minutos para pegar uma garrafa de água na geladeira a cerca de três metros e cinco minutos para colocar dois copos na máquina de lavar louça.

O Optimus, da Tesla, tem aparência semelhante a um grande boneco, com textura plástica em preto e branco. Sem revestimento, sua estrutura robótica fica exposta e suas articulações foram aprimoradas para manipular objetos, visando tarefas repetitivas em fábricas, apoio à produção e até automação residencial, enquanto aprende com dados do mundo real.

O Figure 03 é revestido por tecidos laváveis que podem ser removidos e substituídos sem ferramentas, facilitando trocas rápidas, e também permite personalização com diversos tipos de vestuário, inclusive peças feitas com materiais duráveis e resistentes a cortes.

Limitações e segurança

Apesar do visual e das capacidades mostradas, esses robôs possuem limitações: Figure 03 e Optimus tendem a buscar uma autonomia baseada em IA mais avançada, enquanto o Neo combina modos autônomos com controle remoto por humanos.

A segurança preocupa. Em entrevista ao Wall Street Journal, o CEO da 1X afirmou que o robô não será transformado em um “robô assassino” e, ao ser questionado se o aparelho poderia provocar incêndio ou lançar algo pesado sobre um morador adormecido, respondeu que, apesar de ter capacidade física, foi projetado com múltiplas camadas de segurança para impedir ações como manusear objetos muito quentes, pesados ou cortantes.

Importante notar que, por ora, o controle remoto humano permanece presente no funcionamento dos humanoides.

A presença humana no processo abriu outras frentes: como as máquinas aprendem observando, aumentou a demanda por “treinadores” que executam tarefas repetitivas, como dobrar toalhas, para gerar os dados que os robôs irão replicar.

O repórter do Los Angeles Times, Nilesh Christopher, descreveu uma visita à Objectways, em uma área industrial do sul da Índia, onde funcionários fixam uma câmera GoPro na testa e seguem uma sequência precisa de movimentos manuais para captar imagens em primeira pessoa.

Christopher relatou que Naveen Kumar, de 28 anos, passa o dia em pé em sua estação de trabalho, dobrando centenas de toalhas de mão com máxima precisão. Muitos desses trabalhadores são engenheiros que alternam a atividade braçal, formando um grupo inusitado de instrutores para a próxima geração de robôs com inteligência artificial.

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