A Nintendo obteve a concessão de duas patentes que versam sobre o emprego de invocação de personagens em combates virtuais, um recurso presente em diversos títulos da indústria. Os registros foram validados pelo Escritório de Patentes dos Estados Unidos (USPTO) e ocorrem enquanto a companhia processa Palworld, apelidado de “Pokémon com armas”.
A medida ganha relevo por coincidir com o litígio já aberto no Japão, no qual a Nintendo e a The Pokémon Company acusam a Pocketpair de infringir patentes ligadas à captura de criaturas e a sistemas de montaria. Com a nova proteção legal, a corporação japonesa passa a dispor de argumentos adicionais para sustentar sua posição.
Analistas apontam que o alcance das patentes pode afetar não só Palworld, mas também outros jogos que adotam mecânicas de invocação semelhantes, incluindo títulos de RPG, MMOs e franquias consagradas como Diablo, cuja classe Necromante depende desse tipo de funcionalidade.
Nintendo registrou duas novas patentes sobre invocação de personagens
Segundo os documentos oficiais, a Nintendo teve duas patentes concedidas em setembro de 2024. A primeira, de número 12.403.397, protege um sistema de invocação de personagens auxiliares para combate; a segunda, 12.409.387, abrange a mecânica de troca de montarias, elemento também observado em Palworld.
A distinção da patente 12.403.397 está em sua redação abrangente: descreve situações em que um protagonista pode chamar um “sub-personagem” que atua automaticamente ou mediante comandos do jogador. Essa formulação se aproxima de soluções já difundidas em vários jogos e amplia o escopo jurídico do registro.
A solicitação original foi submetida em março de 2023 e aprovada sem objeções, o que surpreende observadores que acompanham o caso, já que patentes dessa natureza costumam passar por escrutínios mais rígidos antes da validação.
Florian Mueller, da Games Fray, avalia que a concessão representa um “risco estrutural” para o setor, na medida em que poderia autorizar a Nintendo a contestar judicialmente mecânicas estabelecidas há décadas nos videogames.
Além disso, o fato de existirem duas patentes sobre o tema indica que a empresa se prepara para ampliar o embate jurídico não apenas no Japão, mas também nos Estados Unidos.
Como a Nintendo pode usar essas patentes contra Palworld?
O processo contra a Pocketpair já acusa o estúdio de empregar sistemas próximos aos de Pokémon, e a nova patente tende a reforçar a argumentação jurídica da Nintendo.
Em termos práticos, a empresa poderia sustentar que Palworld adota o mesmo princípio de invocação de personagens cuja proteção intelectual agora lhe pertence.
Ainda que a patente 12.403.397 não reproduza com exatidão as mecânicas de Palworld, especialistas afirmam que a amplitude do texto concede margem para interpretações que favoreçam a Nintendo em cortes internacionais.

Outro efeito potencial é o temor gerado entre estúdios menores, que podem optar por não explorar mecânicas similares para evitar o risco de litígios — um impacto prático já relevante mesmo sem a abertura de processos por parte da Nintendo.
Assim, mesmo que a companhia não recorra imediatamente às patentes em disputas, elas podem se tornar ferramentas estratégicas caso o caso contra a Pocketpair extrapole o âmbito japonês.
Invocações no Diablo? Nintendo pode ser dona do sistema
Um dos pontos mais controversos é que o alcance do registro não fica restrito ao Palworld: pelo teor aprovado, a Nintendo poderia reivindicar direitos sobre qualquer jogo que utilize invocações de personagens auxiliares em combate.
Isso inclui franquias de grande porte, como Diablo, onde necromantes convocam esqueletos e golens, além de títulos como World of Warcraft e Elden Ring, que também incorporam sistemas de ajudantes durante as lutas.

Na prática, o registro suscita questionamentos sobre até que ponto a patente pode ser aplicada e se a Nintendo terá respaldo judicial para estendê-la a outros jogos de grande repercussão.
As patentes recém-concedidas reacendem o debate sobre os limites da propriedade intelectual nos videogames e podem influenciar diretamente casos como o de Palworld e franquias já estabelecidas no mercado.








