O secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação declarou à Sputnik Brasil que o Brasil está desenvolvendo uma inteligência artificial própria, semelhante ao ChatGPT. Ele ressaltou a importância de criar uma arquitetura baseada no português e mencionou que o tema está sendo discutido no âmbito do BRICS.
De acordo com um levantamento recente da OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT, o Brasil ocupa a terceira posição entre os países que mais utilizam essa tecnologia, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Esse dado surge em um momento em que a dependência tecnológica brasileira em relação aos EUA está em debate.
O governo federal divulgou em agosto a versão final do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que prevê investimentos de R$ 23 bilhões ao longo de quatro anos. O objetivo é transformar o país em uma referência global em inovação e eficiência no uso da IA, especialmente no setor público.
Em entrevista, Henrique Miguel, Secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do MCTI, destacou que a IA é uma preocupação mundial, citando a China e a União Europeia como exemplos de regiões que também estão atentas ao tema.
Preocupação com a dependência tecnológica
Miguel afirmou que países do Sul Global e da América Latina compartilham a preocupação com a dependência de ferramentas e sistemas desenvolvidos por um grupo reduzido de empresas, em sua maioria norte-americanas. Ele citou o exemplo da China, que busca alcançar maior independência tecnológica.
O secretário destacou que o plano brasileiro visa alcançar a “soberania das nuvens”, o que permitiria treinar bases de dados sem depender de ferramentas de grandes empresas de tecnologia.
“Seria uma nuvem brasileira soberana, uma questão relacionada a não disponibilizar nossas bases de dados para treinamento com ferramentas de grandes empresas, porque isso significaria abrir mão de um ativo importante”, explicou.
Colaboração internacional
Miguel mencionou que China, Índia e África do Sul são parceiros estratégicos para a construção dessa nuvem soberana, devido às suas regulamentações, tecnologias e abordagens em segurança e acesso. A Rússia também demonstrou interesse em colaborar em áreas como tecnologias quânticas e segurança cibernética.
Segundo ele, temas como IA, segurança cibernética, tecnologias da informação, semicondutores e processadores de alto desempenho estão sendo discutidos no âmbito do BRICS.
Desafios linguísticos e culturais
O secretário destacou que o treinamento atual dos modelos de linguagem (LLMs) é predominantemente baseado em inglês, o que resulta em uma falta de diversidade nos conteúdos gerados. Ele comparou a importância da IA em português com a luta histórica por teclados adaptados à língua portuguesa.
“Isso é crucial para a formação de nossas crianças e jovens, além de ser uma questão cultural”, afirmou.
Miguel esclareceu que a IA em desenvolvimento pelo MCTI não pretende competir com ferramentas existentes, mas sim oferecer uma alternativa com foco no treinamento com bases de dados locais.
Desenvolvimento de hardware
O secretário mencionou o desafio de desenvolver componentes como CPUs e GPUs utilizando tecnologias abertas, citando o RISC-V como uma arquitetura revolucionária em semicondutores. O Brasil participa de um consórcio internacional nessa área.
“A parte mais difícil e cara é o desenvolvimento de hardware baseado em chips, mas é crucial para alcançar a soberania tecnológica completa”, afirmou.








