terça-feira, 28 de janeiro de 2025

A corrida pelo domínio da IA seduz os investidores em Davos

O retorno de Trump ao poder inevitavelmente atraiu muita atenção na conferência anual do Fórum Econômico Mundial em Davos. Os conflitos que provocam imenso sofrimento humano também foram objeto de muitos debates. Mas bastava dar uma volta pela promenade (passeio principal) da localidade alpina suíça para perceber a imensa relevância do desenvolvimento da inteligência artificial (IA) no mundo contemporâneo. A presença de empresas relacionadas ao setor nos imóveis que ladeiam a rua central era bastante notável. A corrida pelo domínio da inteligência artificial é um indicador crucial do futuro da economia mundial — e dos equilíbrios de poder entre os atores mais avançados: EUA, China e Europa.

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Essa batalha tecnoeconômica com desdobramentos geopolíticos ocorre em diferentes planos. Uljan Sharka, CEO da iGenius, uma empresa italiana do setor, acredita que um elemento fundamental é a potência computacional. “Se analisarmos os elementos habilitadores fundamentais, costumamos destacar os dados, os talentos e a potência computacional. Os primeiros estão mais ou menos abertos a todos, no segundo há muito boas universidades não apenas nos EUA, mas também na Europa e na China. A potência computacional na verdade é o único elemento que diferencia um ecossistema do outro”, diz, durante uma conversa mantida no Fórum de Davos.

Sharka enfatiza dois elementos fundamentais nesse aspecto da corrida. Por um lado, as restrições impulsionadas pela administração Biden à exportação para a China dos microchips chave nos desenvolvimentos tecnológicos avançados. Estas complicam muito o avanço do gigante asiático e constituem uma formidable arma na competição entre ambos. Por outro lado, uma cultura de investimento que, em sua opinião, está equivocada na Europa. “Na Europa não temos restrições, mas vivemos uma paradoxo. Quando, há algum tempo, era claro que havia que investir em software, na Europa ainda havia uma predileção para investimento em manufatura. Agora, existe uma preferência no intangível, quando realmente deveríamos investir em capacidades computacionais materiais.”

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A observação toca um nervo que tem aflorado repetidamente durante a conferência de Davos: a fragmentação e ineficácia do mercado de capitais europeu, que abriga poupanças de domicílios superiores em quantidade ao americano e que, no entanto, sofre disfunções pelas quais os ativos terminam indo para os EUA em grandes quantidades. A presidenta do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, sublinhou nesta sexta-feira em Davos a necessidade de avançar na verdadeira formação de um mercado de capitais único. “Precisamos de uma união bancária, uma união de mercados de capitais, reter talentos e poupanças em casa. E talvez seja também hora de importar alguns talentos que poderão se sentir desencantados por uma razão ou outra no outro lado do Atlântico.”

A presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também enfatizou a união do mercado de capitais em sua intervenção na terça-feira. Parece haver um amplo consenso sobre a necessidade, exposta no relatório sobre o mercado comum de Enrico Letta, mas não parece que soluções rápidas estejam no horizonte. Enquanto isso, o vigoroso mercado de capitais americano irrigaa abundantemente o desenvolvimento do setor em seu país.

“Os alicerces da força dos EUA residem em seu mercado de capitais”, disse nesta sexta-feira Larry Fink, presidente da BlackRock. “Todo empreendedor, qualquer pequena ou grande empresa encontra capital. Isso permite muito mais criatividade. O mercado de capitais permite reconstruir, mudar de direção, modificar com mais velocidade do que qualquer economia no mundo”, acrescentou.

Outro aspecto relevante para definir a corrida da IA é o acesso à energia. Abundam as previsões acerca das enormes quantidades de energia que serão necessárias para alimentar os modelos. E há muitos especialistas que notaram que o maior nível dos preços da energia representa uma forte desvantagem para a competitividade europeia – tanto no setor de IA quanto em geral.

Sharka destaca, no entanto, um desenvolvimento que pode dar certas esperanças à Europa de não sofrer um déficit decisivo por seus maiores custos energéticos. “Os novos chips da Nvidia produzem substancialmente 30 vezes mais capacidade de cálculo, consumindo 25 vezes menos energia. Se essa curva de desenvolvimento continuar, o fator energético pode não ser um diferencial tão relevante.”

Precisamente o surpreendente avanço na capitalização de mercado da Nvidia — agora em um valor próximo a 3,5 trilhões de dólares, maior que o PIB da França —, a liderança tecnológica de empresas como a OpenAI, a reorientação de gigantes tecnológicos que contam com enormes alavancas de ação indicam, de maneira indiscutível, a posição avançada dos EUA na grande corrida. A Europa dispõe de empresas promissoras como a Mistral, mas qualquer análise objetiva detecta uma distância abismal. O tempo dirá se se trata de uma vantagem irreversível.

Outro aspecto importante na corrida é, claro, a regulação. Aqui, testemunhamos a divergência emblemática de nosso tempo. Trump prometeu no fórum de Davos “uma campanha de desregulamentação sem precedentes na história”. A UE tem sido pioneira em relação à regulação da IA, fiel ao seu instinto protetor frente aos riscos de abuso. A China avança por um caminho de crescente intervencionismo estatal na economia, impulsionado por motivos de segurança e geopolítica, o que está inquietando os investidores.

Essas atitudes refletem de certa forma a alma das três grandes potências e são um dos fatores que influenciam a corrida, que talvez represente o principal elemento definidor do futuro econômico do mundo — e um dos principais em seu futuro geopolítico. Uma corrida repleta de promessas e de riscos. Infelizmente, o setor não é uma exceção, e nele também não se pode esperar uma cooperação para uma governança global que seria crucial. Aqui, também, o mundo corre à beira do precipício.

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