Já ouviu falar da teoria do decaimento de guarda-chuvas e clipes quânticos?
Muito provavelmente não, e a uma das razões é que ela não existe é fantasiosa, mas, por incrível que pareça a palavra quântico está melhor utilizada nesta fantasia do que em muitas expressões de vendas de produtos e serviços.
Sobre a teoria. Na faculdade constávamos aplicar observação do cotidiano em teorias “sérias” (coisa de nerd). Um fato observável é que pessoas perdem guarda-chuvas a todo momento, e de forma semelhante, clipes são encontrados regularmente em gavetas, arquivos e afins. Por que não correlacionar os dois fatos?
A proposta teórica é de que os guarda-chuvas não somem, eles mudam de dimensão. Passam da dimensão dos objetos achados para dos objetos perdidos. E os clipes?
A dimensão dos objetos perdidos, também conhecida como beleleu, tem um nível energético menor que a dos objetos achados, assim, para que ele mude de dimensão é necessário que o guarda-chuva se livre de parte de sua energia. Esta energia é emitida em clipes. Toda vez que um guarda-chuva some ele emite alguns clipes na mudança de dimensão.
A ideia de serem clipes quânticos é relacionada ao conceito físico e semântico da palavra. Quântico se refere a algo que assume valores discreto, ou seja, não tem meio valor. A gravidez, por exemplo, é um valor discreto. Ou a pessoa está grávida ou não. Não existe meio grávida.
O conceito físico é de que a energia também só existe em “pacotes” discretos (quantum) e quando uma partícula subatômica muda de estado energético, ela emite, ou absorve, quanta (sim este é o plural). O lazer, por exemplo, é formado por estes pacotes de energia.
A teoria dos guarda-chuvas e clipes quânticos é uma grande fantasia, mas ilustra bem como as palavras “modernas” e de conceitos desconhecidos são utilizadas de forma indiscriminada. Sobre esta teoria maluca você não deve ter nunca ouvido falar, mas em terapia quântica, coach quântico, medicina quântica vibracional e vários outros quânticos, provavelmente sim.
Alguns poderiam afirmar que um coach quântico utiliza este termos como referência ao ramo de estudo da física. A física quântica é uma área que se destina ao estudo do comportamento dos sistemas físicos em dimensões moleculares, atômicas e subatômicas, envolvendo partículas que a grande maioria só ouve falar em filmes de ficção.
Não é o propósito de desqualificar os quanticismos, desmerecer o trabalho nem tão pouco os resultados das atividades “quânticas”, mas de entender a necessidade de se usar termos “profundamente científicos”, e sem relação, para descrever as atividades ou procedimentos.
Fica a impressão de que usar estes termos “científicos” traz uma validação para as atividades e pessoas. Então usa-se quântico, digital, 3D e outros, como um embrulho cientifico para dar veracidade. Mais ou menos o que foi feito no título deste texto: usar um termo estranho para chamar a atenção.
Agora, quando perder um guarda-chuva, lembre-se que um felizardo encontrará clipes.