A prevenção da dengue e de outras arboviroses demanda mais do que simples mensagens educativas sobre a importância de evitar água parada. Um estudo recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), publicado em 24 de outubro, revela que mudanças efetivas no comportamento da população exigem uma abordagem holística que transcenda a mera informação.
Segundo Luciana Phebo, chefe de saúde do Unicef no Brasil, a crença comum de que a conscientização por si só leva à adoção de hábitos saudáveis é inadequada. “Muitos fatores influenciam a decisão das pessoas em adotar práticas preventivas, como normas sociais, infraestrutura disponível e acesso a políticas públicas”, afirma.
O estudo, que compreende uma revisão abrangente da literatura e pesquisa de campo, categoriza os fatores que afetam a prevenção do mosquito Aedes aegypti em três níveis: psicológico, sociológico e estrutural.
No nível psicológico, a experiência pessoal com a infecção e a percepção de risco são determinantes. Indivíduos que nunca enfrentaram a doença tendem a subestimar sua gravidade. A pesquisa indica que a percepção de risco aumenta durante epidemias, mas diminui em períodos de tranquilidade. Além disso, muitas pessoas consideram as práticas preventivas difíceis e demoradas, o que desestimula ações essenciais, como a limpeza de calhas e caixas d’água.
Os fatores sociológicos também são significativos. O estudo aponta que a participação em organizações comunitárias está ligada ao aumento das práticas preventivas. No entanto, muitas pessoas em diversas regiões carecem de um senso de comunidade, o que prejudica a eficácia da mobilização coletiva.
Em termos estruturais, a pesquisa destaca a deficiência da infraestrutura urbana, como a falta de coleta de lixo e a presença de terrenos baldios, que favorecem o acúmulo de resíduos e a proliferação do mosquito. A relação entre agentes de saúde e a comunidade é igualmente crucial; a desconfiança nas autoridades pode dificultar o cumprimento das orientações de prevenção.
Em resposta a esses desafios, o estudo apresenta diversas recomendações. Entre elas, sugere-se vincular as medidas de controle do mosquito a comportamentos que a população já valoriza, como manter ambientes limpos. Aumentar a percepção de risco em relação às crianças também é uma estratégia eficaz, já que os pais tendem a se preocupar mais com a saúde dos filhos.
Além disso, o estudo propõe a redução dos custos e esforços necessários para a adoção de práticas preventivas e a ampliação dos investimentos em infraestrutura pública. A melhoria na limpeza urbana é vista como fundamental para garantir a adesão popular às medidas de prevenção.
Por fim, o Unicef ressalta a importância de envolver a comunidade nas iniciativas de combate ao mosquito. Políticas de engajamento e discussões coletivas sobre prevenção podem ser decisivas para a criação de uma rede de apoio e conscientização.
“É essencial assegurar que todas as crianças tenham o direito de viver em um ambiente saudável, livre de doenças que possam comprometer sua saúde e rotina. Com os resultados deste estudo, esperamos contribuir para a formulação de políticas públicas e campanhas nacionais que promovam mudanças comportamentais efetivas”, conclui Luciana Phebo.