A discussão sobre o fim dos vestibulares no Brasil coloca em pauta um importante debate sobre a educação superior no país. Esta proposta, que não é apenas parte de um programa partidário, mas também uma demanda histórica do movimento estudantil, levanta questões sobre a viabilidade e os efeitos dessa mudança tão significativa.
O modelo em países da América Latina
Em várias nações da América Latina como Argentina, Uruguai, Cuba e Venezuela, o ingresso nas universidades públicas não requer vestibular. Basta apresentar a carteira de identidade e, em alguns casos, o histórico escolar. Esse procedimento direto e gratuito não leva a uma crise educacional ou econômica, mesmo em países com menos recursos que o Brasil. Isso sugere que, no Brasil, um modelo semelhante poderia ser implementado sem causar problemas estruturais.
Investimento no setor privado e suas consequências
Desde o primeiro governo Lula, houve uma grande transferência de recursos públicos para instituições de ensino superior privadas, através de programas como o ProUni e o FIES. Essa priorização de investimentos resultou em vagas ociosas nas universidades públicas, como observado no Rio Grande do Sul, onde cerca de 20% das vagas não são preenchidas. Enquanto os vestibulares bloqueiam o acesso, esses fundos públicos alimentam o setor privado, reforçando uma política que se diz inclusiva, mas que, na realidade, é excludente.
Qualidade do ensino superior
Um dos argumentos contra o fim dos vestibulares é a possível queda na qualidade do ensino superior. No entanto, nos países onde esse modelo foi adotado, a qualidade não foi comprometida. No Brasil, mesmo com vestibulares em vigor, a proporção de analfabetos funcionais entre graduados prova que o sistema não está garantindo excelência acadêmica.
O custo da educação privada
A média de 70 mil reais para cursar uma faculdade privada no Brasil é uma barreira significativa. Muitas vezes, os graduados acabam em empregos que não exigem formação superior, como é o caso de engenheiros que trabalham como motoristas de aplicativos. Este desperdício de talento ressalta a necessidade urgente de uma reforma no acesso à educação superior.
Finalmente, para que a universidade seja verdadeiramente acessível à população brasileira, é essencial que o movimento pelo fim do vestibular seja adotado não apenas pelos estudantes, mas também por professores e sindicatos. Caso contrário, as universidades continuarão distantes da realidade brasileira, mantendo um sistema que perpetua a exclusão social.