No Brasil, onde o empreendedorismo avança com vigor, cerca de 47 milhões de brasileiros, formais ou informais, tocam seu próprio negócio, e surge também um movimento discreto, porém expressivo: idosos que optam por reinventar sua trajetória. Mais de 650 mil pessoas com mais de 60 anos já são empreendedoras no país, e esse grupo tende a crescer, já que milhares relatam o desejo de abrir um negócio. Nesse contexto dinâmico, a história de João Batista sobressai pela simplicidade, pela coragem e pelo modo afetuoso como integra vida e trabalho.
Após 33 anos como escriturário no BRB, João não quis uma aposentadoria inativa. Trabalhando desde os 12 anos, anteviu que o tempo livre pediria um propósito. Foi assim que um passatempo cultivado por décadas foi se ampliando, embora ele não tenha percebido isso de imediato. “Surgiu da ideia de, ao me aposentar, não ficar sem fazer nada. Queria me manter ocupado, porque quem trabalha desde os 12 anos de idade e se aposenta aos 57 não aguenta ficar parado. Começou como um hobby, que acabou se transformando em uma atividade prazerosa e que trouxesse algum resultado. Passamos de uma simples coleção de orquídeas para um orquidário”, declarou João.
Do quintal ao orquidário: quando a paixão vira empreendimento
A passagem de colecionador a empreendedor não ocorreu de repente. Foi cultivada com a mesma paciência dedicada às plantas: regada, observada e ajustada ao longo do tempo. O que antes ocupava poucas prateleiras transformou-se em um espaço vivo, um orquidário com identidade própria, fruto de experimentações, acertos e aprendizados e do encanto genuíno pelas flores.
Nesse percurso, o Sebrae teve papel relevante, oferecendo suporte por meio de editais e possibilidades de patrocínio. “O Sebrae sempre incentiva a participar de eventos maiores, que muitas vezes são caros para arcar. Eles dividem custos, oferecem descontos e promovem cursos”, relata o empresário, que vê na instituição uma ponte entre pequenos produtores e um público mais amplo.
Com duas décadas de dedicação, o orquidário deixou de ser somente um local de cultivo e passou a acolher histórias, encontros e novas alternativas profissionais. Atualmente, outras três pessoas aposentadas se revezam nas tarefas, encontrando ali não só um complemento de renda, mas também convivência, movimento e propósito. “São pessoas aposentadas que tiram dois dias por semana para vir aqui, fazer algo de que gostam e ainda ganhar um trocadinho”, afirma João.
Trabalho que combina afeto, rotina e pertencimento
Embora parte das contribuições venha do prazer pela atividade, sem foco exclusivo no retorno financeiro, o orquidário tornou-se um ponto de encontro, um lugar em que o tempo parece passar de forma diferente entre conversas, cuidados e a beleza silenciosa das plantas. A rotina é leve e orgânica, e cada participante encontra ali o que às vezes falta no dia a dia: calma, significado e trocas verdadeiras.
O apoio familiar foi determinante nesse processo. A esposa acompanha a trajetória com carinho e bom humor, lembrando que a dedicação do marido às flores quase virou uma relação paralela. Ela brinca que “as orquídeas são suas amantes”, comentário que traduz afeto e reconhecimento pela mudança que o projeto trouxe à vida do casal.








