Por trás do apelido inusitado, o aperta-cu (Eugenia hiemalis) revela um patrimônio pouco aproveitado da flora brasileira. Originária das regiões Sul e Sudeste, especialmente em trechos montanhosos e frios da Mata Atlântica, essa pequena árvore frutífera integra a mesma família da pitanga e da jabuticaba. O nome popular, que costuma provocar risadas à primeira vista, refere-se à sensação adstringente dos frutos ainda verdes, um traço recorrente em diversas mirtáceas nativas.
O que distingue essa espécie é seu ciclo reprodutivo invertido: enquanto muitas frutíferas reduzem sua atividade nos meses frios, a Eugenia hiemalis produz flores no inverno, como indica a nomenclatura científica. O botânico José Aparecido Cordeiro, especialista em propagação de espécies da Mata Atlântica, observa que essa floração tardia transforma a planta em uma fonte crucial de alimento para a fauna quando outras frutas estão escassas; segundo ele, o aperta-cu floresce entre maio e julho, oferecendo néctar e pólen em um período crítico para os polinizadores.
Frutos pequenos, intensos e ricos em benefícios
Os frutos da Eugenia hiemalis são globosos e adquirem tom roxo-escuro na maturidade, medindo cerca de 1,5 cm. Apresentam polpa perfumada com paladar agridoce, que pode variar de um leve toque cítrico até uma doçura mais acentuada, conforme as características do solo e a exposição solar. Como concentram antioxidantes e antocianinas, esses frutos despertam interesse entre produtores artesanais, sobretudo para a produção de geleias, licores e compotas caseiras.
Segundo a engenheira agrônoma Luciana Ribeiro, especialista em fruticultura tropical, a espécie permanece pouco explorada comercialmente, mas tem potencial para se estabelecer em pomares urbanos e em sistemas agroflorestais familiares. É uma frutífera de porte médio, de manejo simples, que se adapta ao cultivo orgânico e apresenta boa tolerância ao frio; popularmente, o fruto é associado ao controle de diarreias, origem de seu nome curioso.
Além da utilidade alimentar, o aperta-cu tem valor ornamental: folhas pequenas, brilhantes e de tonalidade verde-escura contrastam com ramos delgados e uma copa compacta. Na floração, os ramos se cobrem por pequenas flores esbranquiçadas que lembram estrelas agrupadas, e, na frutificação, pequenas bolas roxas pendem entre a folhagem, atraindo aves, um atrativo para qualquer jardim.
Como cultivar a Eugenia hiemalis no quintal
O cultivo do aperta-cu, especialmente em climas subtropicais, é simples e não exige cuidados complexos. A espécie prefere solo fértil, bem drenado e enriquecido com matéria orgânica, podendo ser plantada diretamente no chão ou em vasos amplos, desde que receba pelo menos quatro horas de sol por dia.
A rega deve ser regular no primeiro ano após o plantio, sobretudo nos períodos mais secos, até que a planta se estabeleça; com o tempo, a exigência hídrica diminui. A adubação pode ser feita com insumos naturais, como húmus de minhoca e farinha de osso, preferencialmente no outono, para favorecer uma floração vigorosa no inverno seguinte.
De crescimento moderado, a espécie admite podas leves de formação, indicadas para modelar a copa arredondada ou conduzi-la como arbusto. A propagação é viável por sementes frescas, semeadas logo após a colheita, pois a capacidade germinativa tende a cair com o tempo, conforme orientações de especialistas em fruticultura.
Embora ainda pouco divulgada fora de círculos de colecionadores de frutas raras, a Eugenia hiemalis é um convite a recuperar espécies nativas no espaço doméstico, agregando sabor, beleza e biodiversidade ao ambiente. Mesmo com um nome popular polêmico, merece ser cultivada com atenção e ganhar destaque no jardim.









