Uma coisa que eu tenho certeza que todo capixaba já falou pelo menos uma vez na vida é: “capixaba não tem sotaque! ”, mas será que não tem mesmo? Essa grande questão que ronda a identidade espírito-santense, na verdade, é bem simples de explicar.
Você já viajou para outro estado e notou como as outras pessoas falam diferente de você? Ou alguma pessoa de outro estado comentou que você fala cantando? Sobre o jeito diferente que você fala, ou das expressões que você usa? Pois é, isso indica que você, capixaba, tem sim sotaque! O Espírito Santo divide fronteiras com os sotaques mineiro, baiano e carioca, todos conhecidos e facilmente identificados, ou seja, apresentam marcas linguísticas muito fortes. Ao contrário de nós, que não possuímos marcas linguísticas fortes, e é justamente isso que caracteriza o sotaque capixaba!
Há aproximadamente 20 anos, um grupo de pesquisa vinculado a UFES, o PortVix, se dedica ao mapeamento e estudo da variação e mudança linguística no Espírito Santo. A atual coordenadora do grupo, a professora e pesquisadora Leila Tesch, concluiu que o capixaba é reconhecido pelo léxico, por exemplo as expressões “pocar”, “massa”, “taruíra”, “ir pro rock”, “gastura”, “tilt”, a prosódia, o falar cantando, e pela falta dessas marcas linguísticas fortes.
Estarmos cercados de estados com a identidade linguística forte e muito conhecida, o que pode criar a percepção que capixaba não tem sotaque, mas na verdade isso compõe na nossa identidade linguística. E, se pararmos para observar, o nosso estado tem inúmeros sotaques diferentes. Cidades com colonização italiana, alemã, pomerana, vão fazer você se deparar com jeitos diferentes de falar da região metropolitana. O mesmo vale para cidades de fronteira, ou com influencias indígenas e quilombola, e por aí vai. Então sim, capixaba tem sotaque!