O interesse por animais exóticos como pets tem crescido significativamente nos grandes centros urbanos brasileiros. Entre os répteis mais cobiçados está a iguana, cuja posse, no entanto, envolve uma complexa teia de regulamentações e exige cuidados muito específicos para seu bem-estar.
Nos últimos anos, as iguanas conquistaram espaço em apartamentos brasileiros, atraindo tutores com sua aparência marcante e comportamento geralmente tranquilo. No entanto, especialistas alertam: estes não são animais de baixa manutenção e sua criação demanda conhecimento técnico, infraestrutura adequada e, sobretudo, atenção às exigências legais.
A Questão Legal: É Permitido Ter uma Iguana no Brasil?
Diferentemente de cães e gatos, a iguana é considerada um animal silvestre pela legislação ambiental brasileira. Sua posse não é proibida, mas é estritamente regulamentada, exigindo que o tutor cumpra uma série de requisitos legais.
Legislação Federal: A base legal é a Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais), que determina que a posse, transporte e criação de animais silvestres só podem ocorrer com autorização do poder público, sendo o IBAMA o órgão federal responsável por normatizar e fiscalizar essas atividades.
Competência Estadual: Embora o IBAMA estabeleça diretrizes gerais, cada estado possui autonomia para criar regras complementares e emitir licenças locais por meio de suas Secretarias Estaduais de Meio Ambiente. As exigências podem variar significativamente de um estado para outro.
Documentação Necessária: Para a posse legal, o tutor deve comprovar a origem do animal por meio de nota fiscal emitida por um criadouro autorizado e realizar o cadastro no órgão ambiental estadual. Em alguns casos, é necessário apresentar fotos do local onde o animal será mantido e comprovar que o ambiente atende às condições mínimas de espaço, iluminação e segurança.
Os Desafios Práticos: Como Cuidar de uma Iguana
Mais do que um trâmite legal, ter uma iguana exige um compromisso de longo prazo, elas podem viver até 20 anos em cativeiro, e a provisão de um ambiente que simule com precisão seu habitat natural.
Alimentação: Um Estrito Regime Herbívoro
As iguanas são animais estritamente herbívoros e sua dieta deve refletir isso. Oferecer proteína animal (carne, laticínios, ovos ou insetos) é prejudicial à sua saúde, podendo causar sérios problemas renais.
Alimentos Recomendados: A base da dieta deve ser composta por verduras de folha verde, como acelgas, escarola, rúcula e dente-de-leão. É possível complementar com pepino, abobrinha, cenoura e, com moderação, frutas como maçã, pera, mamão e morango.
Suplementação: É crucial suplementar a alimentação com cálcio em pó diariamente para garantir um desenvolvimento ósseo adequado e prevenir doenças.
Habitat: O Terrário Ideal é Fundamental
Um erro comum é subestimar o espaço necessário. Uma iguana adulta pode atingir até 2 metros de comprimento.
Tamanho e Estrutura: O terrário deve ser o mais amplo possível, com dimensões mínimas recomendadas de 2m de comprimento x 1,5m de largura x 1,8m de altura. Deve conter troncos, ramas resistentes e plataformas em altura para que o animal possa trepar, seu comportamento natural.
Temperatura e Umidade: Sendo um réptil de sangue frio, a iguana depende de fontes externas de calor. A temperatura do terrário deve ter um gradiente, variando entre 24°C e 35°C, nunca caindo abaixo de 21°C à noite. A umidade relativa do ar deve ser mantida alta, entre 70% e 80%, por meio de pulverizações regulares de água.
Iluminação UVB: Este é um dos aspectos mais críticos. As iguanas necessitam de luz ultravioleta B (UVB) por 10 a 12 horas por dia para sintetizar a vitamina D3, que por sua vez permite a absorção do cálcio. Sem isso, desenvolvem rapidamente a Doença Óssea Metabólica, uma condição debilitante e fatal. As lâmpadas UVB perdem eficácia antes de queimar e devem ser trocadas a cada 6 a 12 meses.
Saúde e Manejo
Socialização: São animais territoriais que, com manejo gentil e diário, podem se tornar dóceis. É importante manuseá-las com cuidado, segurando-as pela região abdominal, e nunca pela cauda.
Saúde Veterinária: Recomenda-se uma revisão veterinária anual com um profissional especializado em animais exóticos. Isso permite a detecção precoce de problemas comuns, como parasitoses, abscessos na pele e problemas reprodutivos.
Uma Decisão que Vai Além do Gosto Pessoal
Ter uma iguana como animal de estimação demanda significativos recursos financeiros (para a montagem e manutenção do terrário), tempo e conhecimento técnico. Antes de tudo, é essencial consultar o órgão ambiental do seu estado para entender as regras locais e garantir que a posse será legalizada, evitando multas e a apreensão do animal.
A decisão de levar um animal silvestre para casa deve ser pautada pela responsabilidade e pelo compromisso genuíno de oferecer uma vida digna e saudável a um ser com necessidades tão específicas.
