Quando o Centro de Vitória vira sala de aula, museu vivo e convite ao futuro
No feriado de vinte (20) de novembro, o Centro Histórico de Vitória ganhará novos significados, embalado pela Caminhada Vitória Negra, um percurso guiado que celebra o Dia da Consciência Negra transformando ruas, praças e prédios em páginas abertas de um livro que muitos nunca tiveram chance de ler. A proposta é simples e potente: caminhar para compreender, ouvir para reconhecer, observar para ressignificar, como quem tira a poeira de um retrato esquecido e descobre que era um espelho.
O evento integra uma iniciativa nacional do Guia Negro, plataforma brasileira de afroturismo que, há anos, provoca a mesma pergunta incômoda e necessária: quem conta a história das nossas cidades e quem ficou de fora do enredo oficial? Ao promover caminhadas em todas as capitais do país, o Guia Negro amplia vozes e devolve protagonismo às comunidades pretas, costurando memórias que o tempo tentou esfiapar.
Em Vitória, o responsável por conduzir essa experiência é o historiador Marcus Vinícius Sant’ana, mestre em Estudos Urbanos, pesquisador das culturas populares capixabas e um contador de histórias que equilibra rigor acadêmico e leveza narrativa, feito quem carrega um livro pesado num bolso pequeno. Marcus leciona diferentes disciplinas e atua como gestor cultural no Instituto Raízes, aprofundando pesquisas que ajudam a compreender como a presença negra estrutura o que chamamos de identidade capixaba.
O trajeto começa na Igreja do Rosário, marco histórico de devoção, resistência e organização social da população negra desde o período colonial. De lá, os participantes seguem até o Mucane, o Museu Capixaba do Negro, território simbólico para debates contemporâneos sobre memória, arte e reparação. Por fim, a caminhada se encerra na Vila Rubim, berço de comércio popular, ponto de encontro de trabalhadores e palco de expressões culturais que insistem em florescer mesmo sob concreto quente.
Durante quase três horas, o roteiro funciona como uma aula aberta para quem deseja compreender a cidade além da superfície. Personagens esquecidos, empreendedores que abriram caminho, narrativas soterradas e tradições que sobreviveram ao silêncio forçado ganham espaço, cor e movimento. Mais do que conhecer lugares, o público percebe como cada esquina carrega traços de uma Vitória que nem sempre aparece nas propagandas turísticas.
A Caminhada Vitória Negra é também convite. Convite para repensar a história ensinada, para olhar o centro com outros olhos e para assumir que preservar a cultura negra não é gesto de passado, mas de futuro [daquele tipo de futuro que anda de mãos dadas com a justiça].
Para quem deseja aprender, revisitar e se reconhecer, é oportunidade rara. Para quem não for, fica o aviso: algumas histórias só se entende com os próprios passos.
Caminhada Vitória Negra 20/11 – especial Dia da Consciência Negra
📌 Inicio: Igreja do Rosário
⌚ 9:30h
🎟 Ingresso único – R$ 50,00 (Sympla)








