A Suprema Corte dos Estados Unidos suspendeu temporariamente, nesta quarta-feira (1º de outubro), a iniciativa do presidente Donald Trump (Republicanos) de destituir Lisa Cook, governadora do Federal Reserve (Fed). A decisão garante que ela permaneça no cargo pelo menos até janeiro de 2026, quando os magistrados ouvirão os argumentos orais.
Cook, que assumiu a posição em agosto, enfrentou acusações de fraude hipotecária feitas por Trump, todas negadas por ela. A economista ingressou com ação judicial alegando violação de seus direitos constitucionais, pois não houve notificação formal das acusações nem oportunidade de defesa antes da tentativa de remoção. Argumentou também que as razões apresentadas pelo presidente contrariavam a Lei do Federal Reserve, que exige “justa causa” para a demissão de governadores.
Ameaça à autonomia do banco central
O caso é sensível porque envolve a independência do Fed em relação ao governo federal, princípio fundamental para a economia americana. “Ainda há um longo caminho, mas esta é uma vitória temporária para a autonomia do Fed”, declarou Tim Mahedy, ex-conselheiro sênior do Federal Reserve Bank de São Francisco.
Embora a Suprema Corte tenha apoiado Trump em disputas anteriores sobre demissões em agências federais, os juízes decidiram seguir precedentes que favoreciam Lisa Cook.
Posicionamentos da administração e da defesa
O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, afirmou em nota que “o presidente Trump agiu dentro da lei ao remover Lisa Cook do Conselho de Governadores do Federal Reserve por justa causa. Estamos confiantes na vitória após a apresentação dos argumentos em janeiro”.
Os advogados de Cook, Abbe Lowell e Norm Eisen, consideraram a decisão favorável. “O tribunal agiu corretamente ao permitir que a governadora Cook permaneça no Conselho do Federal Reserve, e aguardamos os próximos passos conforme a determinação judicial”, disseram.
Trajetória de Lisa Cook
Lisa D. Cook é uma economista reconhecida por seu trabalho no Federal Reserve e por ser a primeira mulher negra a integrar o conselho da instituição em mais de um século. Nomeada pelo presidente Joe Biden em 2022, foi reconduzida para um mandato de 14 anos, até 2038, e participa do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), que define a taxa de juros dos EUA.
Graduada pela Universidade Spelman, doutorou-se em Economia na Universidade da Califórnia, Berkeley, e fez pós-doutorado em Harvard. Lecionou na Universidade Estadual de Michigan e desenvolveu pesquisas sobre bancos centrais, crises financeiras, desigualdades raciais e inovação.
Em um artigo no New York Times, ela e a pesquisadora Anna Gifty Opoku-Agyeman discutiram os obstáculos enfrentados por mulheres negras na economia — em 2023, apenas quatro das 492 doutoras em economia nos EUA eram negras. Seu estudo sobre o efeito dos linchamentos na produção de patentes nos EUA mostrou que a violência racial reduziu significativamente o potencial inovador do país.
Com experiência no Conselho de Assessores Econômicos do presidente Barack Obama e no Departamento do Tesouro, Cook construiu uma carreira influente em políticas públicas. No Fed, tem participado ativamente de debates sobre inteligência artificial, inovação e produtividade, ressaltando o papel da tecnologia no desenvolvimento econômico global.








