5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Rússia acusa os EUA de ato de guerra por sanções às petroleiras

As recentes medidas econômicas decretadas pelo governo de Donald Trump contra as maiores petrolíferas russas, Rosneft e Lukoil, provocaram imediatamente alta de cerca de 5% nos preços internacionais do petróleo e elevaram as tensões entre Washington e Moscou. O Brent alcançou US$ 65,50 e o WTI ultrapassou US$ 61, o maior salto das últimas semanas, refletindo o receio de redução da oferta global, já que a Rússia é o segundo maior produtor mundial de petróleo.

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O efeito foi instantâneo: refinarias na China e na Índia, principais compradoras do petróleo russo, anunciaram cortes ou a suspensão das aquisições. A reação do mercado foi de incerteza, enquanto países da OPEP se comprometeram a “compensar eventuais déficits de produção”, diante do temor de uma nova crise energética.

“Restringir o petróleo russo vai desestabilizar os mercados e prejudicar o próprio consumidor americano”, afirmou Vladimir Putin, acusando Trump de “agir por impulsos políticos que põem em risco a economia global”.

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Moscou reage: “Os EUA são nossos inimigos”

A resposta russa foi rápida e severa. Dmitry Medvedev, ex-presidente e atual vice‑presidente do Conselho de Segurança, aliado próximo de Putin, definiu as sanções como “um ato de guerra” e declarou que “os EUA entraram de vez no caminho do confronto”.

Medvedev questionou as ações de Trump, lembrando o cancelamento da cúpula em Budapeste e as novas sanções: “O que mais? Haverá novas armas, além dos infames ‘Tomahawks’?”, disse, acrescentando: “Os EUA são nosso inimigo, e o seu falastrão ‘pacificador’ [Trump] agora entrou de vez no caminho da guerra contra a Rússia”.

As declarações, com tom praticamente beligerante, vieram após o cancelamento do encontro entre Trump e Putin, previsto na Hungria para tratar de um cessar‑fogo na Ucrânia. O Kremlin interpretou o gesto como uma ruptura diplomática e ampliou demonstrações militares, incluindo testes simultâneos com mísseis balísticos nucleares, vistos por analistas como um recado direto a Washington.

Sanções que isolam e inflamam

As sanções impostas pelo Tesouro dos EUA bloqueiam bens e ativos das empresas russas no território americano e vetam transações com suas subsidiárias. Especialistas afirmam que, além do impacto econômico imediato, as medidas atingem o núcleo do financiamento russo, já que o petróleo responde por mais de 30% da receita estatal.

Entretanto, a decisão de Trump não ocorre isoladamente. Enquanto tenta pressionar Moscou, o presidente enfrenta pressões internas e externas crescentes: alta nos preços de energia nos EUA, críticas de aliados europeus sobre o risco de desestabilização e perda de credibilidade internacional após sucessivas reviravoltas em sua política externa.

Trump busca projetar firmeza diante de Putin, mas tem agido de forma errática e reativa. Suas sanções acabam penalizando globalmente, sobretudo os países dependentes de energia, e alimentam o sentimento nacionalista na Rússia. Analistas apontam que o uso de sanções como instrumento político repete erros históricos e termina por prejudicar também o consumidor norte‑americano.

Petróleo em alta e crise diplomática

A alta nos preços já traz consequências secundárias. Além do aumento dos combustíveis nos Estados Unidos e na Europa, China e Índia, que sustentavam parte das exportações russas, começam a reduzir operações para evitar retaliações de Washington. O bloqueio ameaça desorganizar o comércio global de energia, pressionando economias emergentes e elevando custos de transporte e produção.

Em resposta, Putin voltou a defender a ampliação da base de parceiros russos, estreitando vínculos com países fora do alinhamento ocidental e com o bloco ampliado dos BRICS, no qual Brasil e China desempenham papéis estratégicos.

O retorno da lógica de guerra

A nova leva de sanções representa uma mudança na postura de Trump, que até então vinha evitando medidas diretas contra Moscou. Ao endurecer o tom, o presidente reacende uma retórica de confronto entre potências nucleares, com potencial para fragmentar ainda mais a ordem internacional.

Analistas enxergam o gesto como manobra de política interna travestida de diplomacia, destinada a recuperar apoio entre falcões republicanos e setores militares, mesmo que isso implique uma perigosa escalada.

“Cada novo ultimato de Trump é um passo em direção ao conflito direto. A diplomacia foi substituída por chantagem econômica”, declarou Medvedev.

A retórica russa reflete um sentimento crescente de cerco geopolítico, reforçado pela ampliação das sanções europeias e pelo apoio da OTAN à Ucrânia. Enquanto isso, a guerra, prestes a completar quatro anos, segue sem perspectiva de paz, e o custo econômico e humano aumenta em ritmo alarmante.

Um império em declínio

Ao mirar o petróleo russo, a administração americana acerta o centro da economia global, ao mesmo tempo em que expõe contradições de um país que, em nome da hegemonia, desestabiliza o sistema que ajudou a construir. Os EUA, que se apresentam como defensores da “liberdade dos mercados”, recorrem cada vez mais ao bloqueio econômico e ao isolamento como instrumentos de poder, convertendo aliados em reféns e adversários em inimigos permanentes.

As sanções tornaram‑se o novo campo de batalha da política externa americana. No entanto, um mundo multipolar já não se curva com facilidade a essas estratégias.

A ofensiva contra Moscou, somada à crise nas relações com a China e ao desgaste com parceiros europeus, reforça a imagem de uma potência em declínio, empenhada em uma política externa errática e movida por impulsos eleitorais.

As medidas de Trump não só elevaram o preço do petróleo como ampliaram a guerra de narrativas que marca o novo cenário global. Para a Rússia, trata‑se de proteger sua soberania diante de um cerco ocidental; para os EUA, de reafirmar sua liderança por meio da coerção econômica. O desfecho tem sido um mundo mais instável, mais caro e mais perigoso.

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